Quando era pequenina, pensava que os bacalhaus eram peixes achatados como os linguados ou as raias. Mais tarde, descobri com surpresa que não são planos como os vendem no supermercado e que muitos povos os comem frescos.
Há uns dias vi-os com vida, pela primeira vez, no Museu Marítimo de Ílhavo. Só por isso valeria a pena visitar este espaço museológico, para mim um dos mais interessantes de Portugal e, para os estrangeiros do ArchDaily, um dos mais espetaculares do século XXI.
O edifício é composto por cinco salas. A primeira chama-se Faina Maior e é sobre a pesca do bacalhau, com uma réplica em tamanho real de um barco usado pelos portugueses nos mares gelados e distantes da Gronelândia e da Terra Nova. De uma forma simples e nada maçadora, aprendemos, por exemplo, que estes homens-coragem eram na sua maioria de Ílhavo e que, durante os séculos XIX e XX, pescavam o bacalhau à linha em dóris, ou seja, em frágeis botes de um só homem. Cada um ficava durante várias horas sozinho no mundo, no meio do mar, da escuridão e do frio.
Depois do “lugar onde se guardam as memórias desta aventura humana”, passamos à grandiosa Sala da Ria, observando dez embarcações típicas da Ria de Aveiro, igualmente em tamanho real. O moliceiro e o saleiro são os barcos maiores, recordando-nos atividades praticamente desaparecidas no nosso país, como a apanha do moliço, a extração e o transporte de sal, além da pintura colorida das proas.
No átrio superior, depois de visitarmos com entusiasmo a Sala das Conchas e Algas, a Sala dos Mares e a Sala de Arte, subimos por fim uma rampa que conduz ao Aquário dos Bacalhaus. Lemos nas paredes do edifíco diversas informações sobre o peixe-mais-famoso-de-Portugal até que, sem aviso, me aproximo de um pequeno muro, espreito e ali estão eles: os bacalhaus, a nadar serenos por baixo de mim, sós como os homens nos dóris.
A rampa desce depois em espiral e é como se mergulhasse no aquário, sempre com os olhos postos nos peixes. Até que me sento na última sala, os meus olhos nos das outras pessoas que os admiram de cima, fascinadas por este animal indiferente a todos nós.
Porque não somos peixes, há que guardar e visitar a memória dos homens estóicos que viveram antes de nós. São eles que nos emprestam identidade e orgulho enquanto portugueses e que, juntamente com os bacalhaus vivos, tornam este museu realmente especial.
Dica: existe um bilhete combinado para visitar o Museu Marítimo de Ílhavo e o Navio-Museu Santo André. Construído em 1948, este antigo arrastão fez parte da frota portuguesa do bacalhau e pretende mostrar como foram as pescarias desta espécie nos mares do norte. Está ancorado num braço da Ria de Aveiro, mais propriamente na Gafanha da Nazaré, a caminho da Costa Nova.
Conteúdo selecionado para a campanha sobre atividades de verão com os miúdos publicada no blog da editora educativa Twinkl.
Curioso, eu desde criança que como bacalhau fresco. A minha mãe comprava-o do outro lado da fronteira. Vantagens de morar longe da capital! Afinal vai havendo algumas 🙂 Tanto quanto sei, o embaixador da Noruega andou a fazer campanha para o tentar introduzir fresco em Portugal. Não sei se a moda pegou.
Olá Sofia: que bom que gostaram do Museu Marítimo de Ílhavo. Também o considero um dos melhores de Portugal. Visitei-o há poucos meses e partilhei no blogue a minha experiência (http://www.documentaromundo.com/2015/12/a-tradicao-do-bacalhau-em-portugal.html). Não sei se chegaram a conhecer o Navio-Museu Santo André. Há um bilhete combinado (que na altura não me informaram) e para quem tem interesse, este deve ser o ponto de partida. Gostei de recordar este museu especial e parabéns ao Paulo pelas fotos.
Olá Eva, a nós informaram-nos do bilhete combinado (Navio-Museu Santo André + Museu Marítimo de Ílhavo). Aliás, tencionávamos começar a visita pelo navio, mas quando chegámos havia uma fila impossível de senhores de idade à nossa frente, acabados de chegar em vários autocarros. Teremos de voltar noutra altura. No Museu Marítimo, aconselharam-nos a regressar no início de Agosto, aquando do Festival do Bacalhau. Está na agenda!
Muito bom! Quando voltar a esses lados tenho de visita-lo certamente.