Já ouviu falar do fenómeno de Arouca? De pedras que “dão à luz”?!… Se não é o caso ou ainda não visitou o local, então convido-o a ler o texto que se segue e quem sabe, no próximo fim-de-semana, não faz as malas e dá um pulo à aldeia de Castanheira para apreciar este fenómeno único e deslumbrar-se com alguns dos encantos da região.

A cerca de 70 km da cidade do Porto, em pleno coração do planalto da serra da Freita, é possível observar um fenómeno que, até hoje, é considerado único no mundo e ponto de paragem obrigatório para quem visita esta região. Na aldeia de Castanheira, em Arouca, existe um afloramento granítico com cerca de um quilómetro de extensão, onde discos de pedra, designados de nódulos biotíticos, se soltam de rochas de granito, como se delas nascessem: são as pedras parideiras.

Como na generalidade das rochas, os nódulos têm um núcleo de quartzo, revestido a feldspato, moscovide e biotite (mica preta). Porém, aqui a biotite predomina no exterior das formações, permitindo, assim, identificar quais as próximas rochas que se vão desprender.

Os nódulos soltam-se devido à erosão do granito mãe e às condições climatéricas da região. Por serem pretos, no verão, os nódulos absorvem mais calor do que o granito onde se encontram, dilatando-se. Por outro lado, no inverno, em particular nos dias mais frios, a água que escorre na rocha aloja-se entre o granito e o nódulo e, quando gela, acaba por causar o desprendimento e dar origem a uma nova pedra.

Dada a importância estratégica desta área para a região, o afloramento integra o Geoparque de Arouca, bem como a rede de Geoparques da Europa. Desde 2012, dispõe de um espaço dedicado ao estudo científico do fenómeno e ao turismo, a Casa das Pedras Parideiras. O espaço, que integra um antigo palheiro, dispõe de uma zona coberta e outra a céu aberto, onde se podem observar estas formações. A ideia deste local é preservar o espaço e a identidade da região, por isso pense duas vezes quando resolver levar alguma pedra para casa.

A aldeia de Castanheira, praticamente perdida no tempo, encontra-se bem preservada. Entre cabras e vacas, deixe-se perder pelas vielas. Aprecie ainda os palheiros, antas e quedas de água que existem nas redondezas.

A gastronomia também é uma boa razão para visitar a região. Os vegetarianos não têm aqui grandes alternativas. Por isso, se é o seu caso, acautele -se ou converta-se antes de partir. A posta arouquesa, a vitela e o cabrito são algumas das opções de eleição. Os doces conventuais são uma boa opção para os mais gulosos. Arouca tem uma das mais finas e requintadas doçarias conventuais do País, legado do seu Mosteiro. Se deu uma boa caminhada pela serra, tente-se e reponha as energias perdidas. Se não deu, o melhor é dar uma volta ao quarteirão e deixar-se tentar…

Texto: Tânia Fontes
Fotos: Tânia Fontes e Daniel Ribeiro

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