Ecovia do Vez
- A nossa experiência
- Caracterização da Ecovia do Vez
- Mapa da Ecovia do Vez e track GPS do percurso
- Etapas da Ecovia do Vez e onde começar
- O que levar
- Recomendações
- Passadiços de Sistelo
- Onde comer perto da Ecovia do Vez
- Onde ficar alojado
- Outros trilhos em Sistelo
- A importância do rio Vez e de Sistelo
A nossa experiência
Dois dias antes do Natal, numa manhã fria de inverno, acordámos cedo para fazer uma caminhada na Ecovia do Vez, no norte de Portugal. Os dias anteriores, em Lisboa, tinham sido de correria: correria atrás de prendas, lojas cheias, atropelos, esperas, irritação. Ansiávamos por paz, simplicidade e algum sentido para as nossas vidas.
Partimos de Braga, a minha cidade-natal, às 8h30 da manhã e chegámos à Ponte Medieval de Vilela, no concelho de Arcos de Valdevez, uma hora depois.
Geralmente, as pessoas não têm consciência da beleza do que as rodeia, focando-se no que é negativo. Vi as árvores despidas. O céu cinzento. Uma paisagem escura. Senti frio e não me apetecia sair do carro. Já o Paulo não se queixou de nada e saiu entusiasmado para o mundo.
Primeiro foi a neblina matinal. Depois o verde esmeralda do rio Vez que me foram conquistando.
Enquanto caminhava, os meus pensamentos oscilavam entre lembranças do passado e ideias sobre o futuro. Para nos sentirmos felizes, temos de nos agarrar ao presente, ao que estamos a viver no momento. As caminhadas ajudam-nos nesse sentido. Ficamos mais silenciosos, mais relaxados, mais calmos e é então que nos começamos a aperceber da beleza do que nos rodeia: da beleza das árvores, da beleza da água, da beleza das pessoas, da beleza da vida.
A neblina numa manhã fria de inverno a levantar-se lentamente da terra.
As gotículas de orvalho.
As teias de aranha a brilhar como se tivessem sido tecidas com pequenos diamantes.
O caminho de terra coberto por um tapete de folhas.
Uma vaca cachena, pachorrenta apesar dos seus ameaçadores cornos, inesperadamente à nossa frente.
O trilho a acompanhar o rio Vez.
Alguns passadiços de madeira para facilitar a nossa passagem.
A água cristalina e o ruído do rio a correr, ora serena ora tumultuosamente.
Algumas cascatas e praias fluviais.
A alegria do Paulo por estar no meio da natureza.
O seu entusiasmo a fotografar.
As suas palavras.
Os nossos risos e sorrisos.
O silêncio confortável.
O podermos ser totalmente nós um com o outro.
O amor que sentimos.
São momentos a que me agarro no presente, afugentando os pensamentos sobre o passado e sobre o futuro. São momentos simples que dão sentido à minha vida.
O presente, todavia, nem sempre é agradável como quando, quase a chegar ao final do percurso, depois de termos andado cerca de 10 km, cansados e a precisar de almoçar, encontrámos o caminho cortado devido a uma derrocada que partira o passadiço de madeira, impedindo-nos de continuar.
Lá vieram os meus pensamentos pessimistas sobre o futuro a correr velozmente, invandindo-me a mente, sobrepondo-se ao presente e deixando-me com um desalento e um estado de ânimo difíceis de aturar, até por mim própria.
O que é que eu faço nessas alturas? Queixo-me e queixo-me sem parar: tenho fome; estou cansada; só faltava 1,5 km para chegarmos a Sistelo e agora vamos ter de andar tudo para trás; como é que a Câmara Municipal não avisa as pessoas que o caminho está cortado?
Queixar-me é a minha forma de aliviar a tensão que sinto. Já o Paulo tenta pensar logo numa solução. Neste caso, foi voltarmos para trás para tentarmos encontrar um atalho na ecovia que nos conduzisse a uma estrada, de onde poderíamos pedir boleia ou chamar um táxi.
Ainda andámos bastante até chegarmos a uma estrada. Era uma via secundária nas montanhas, por onde não passou um único carro.
Tivémos de continuar a andar até chegarmos ao lugar de São Sebastião, uma aldeia onde não encontrámos ninguém. Daí – e já com rede – telefonámos para um táxi, cujo número havíamos fotografado no início da caminhada, junto à Ponte Medieval de Vilela. Atendeu-nos uma taxista, mas tinha um serviço e só nos poderia ir buscar passado, pelo menos, uma hora.
Continuámos a andar, mais e mais, até que ouvimos um carro. Virámo-nos imediatamente e pedimos boleia. Vimo-lo a abrandar devagarinho. “Pára… Pára…” – disse dentro de mim. Até que parou.
Dentro do carro seguia um típico casal minhoto muito simpático e uma criança tímida. Já dentro da viatura, apercebi-me do quanto ainda teríamos de andar se não fossem eles e senti-me extremamente grata por nos terem ajudado e por haver pessoas boas. Levaram-nos mesmo até à Ponte de Vilela, onde tínhamos deixado o carro, despedindo-se de nós com um repetido e sincero: “Vão com Deus”.
Apesar daquele contratempo no caminho, que nos obrigou a voltar para trás e a andar bastante mais do que o previsto, gostámos muito da Ecovia do Vez e, no final, reencontrámos o amor: o amor um do outro e o amor de quem nos ajudou desinteressadamente.
Nota | Apesar da derrocada que em Dezembro de 2018 partiu o passadiço, o trilho estava muito bem mantido e limpo. O passadiço, entretanto, já foi restaurado.
Caracterização da Ecovia do Vez
- Localização | Concelho de Arcos de Valdevez
- Tipo de percurso | Linear e sinalizado
- Início | Jolda de S. Paio
- Fim | Sistelo (ou vice-versa)
- Extensão total | 34 km
- Duração | Cerca de 9 horas
- Nível de dificuldade | Médio
Mapa da Ecovia do Vez e track GPS do percurso
A Ecovia do Vez está muito bem sinalizada. Por isso, em princípio, não irá necessitar de um mapa.
Em caso de dúvida, poderá descarregar aqui a brochura oficial/ mapa da ecovia e o GPX do percurso.
Etapas da Ecovia do Vez e onde começar
A Ecovia do Vez está dividida em 3 etapas:
- Etapa 1 | Jolda S. Paio – Arcos de Valdevez (14 km, cerca de 3 horas)
- Etapa 2 | Arcos de Valdevez – Vilela (10 km, cerca de 2h30)
- Etapa 3 | Vilela – Sistelo (10 km, cerca de 3 horas)
Pode, portanto, iniciar a Ecovia quer em Jolda S. Paio quer em Arcos de Valdevez quer em Vilela. Em alternativa, poderá começar em Sistelo e seguir na direção contrária.
Uma vez que a extensão total da Ecovia do Vez é bastante longa (34 km), nós planeámos fazer apenas a Etapa 3, de Vilela a Sistelo (10 km, cerca de 3 horas). Em Sistelo, chamaríamos um táxi para regressar ao ponto inicial.
Se, como nós, resolver começar a Ecovia em Vilela, deverá seguir a indicação “Ponte Medieval”. Junto à ponte, há estacionamento para 2 ou 3 carros. O ponto de partida da ecovia é aí e está bem assinalado.
O que levar
- Mochila leve e confortável
- Roupa e calçado adequados para caminhadas
- Casaco impermeável em épocas de chuvas (verificar sempre a meteorologia)
- Água e alguma comida energética (por exemplo: barritas de cereais e bananas)
- Um saquinho para pôr o lixo
- Telemóvel
- Protetor solar, chapéu e óculos de sol (se for caso disso)
- Fato de banho, no verão, porque há várias praias fluviais pelo caminho
- Bastões de caminhada (apesar de não serem necessários neste trilho, ajudam a estabelecer um bom ritmo e a exercitar todo o corpo, incluindo braços e ombros)
Recomendações
- Com a humidade, os passadiços de madeira ficam muito escorregadios. Por isso, tenha cuidado para não cair.
- Respeite o sossego do local, evitando falar alto ou fazer barulho.
- Não deixe lixo à sua passagem. Transporte-o consigo e deposite-o nos locais apropriados.
Passadiços de Sistelo
Como não somos pessoas de desistir, depois do almoço nos Arcos de Valdevez, dirigimo-nos à aldeia Sistelo para fazer o quilómetro e meio da Ecovia do Vez que nos faltava.
Em Sistelo, há indicação de dois percursos pedestres:
- Passadiços de Sistelo
- Ecovia do Vez
O Trilho dos Passadiços de Sistelo (ou PR 25 – Trilho dos Passadiços), é uma rota circular que desce da aldeia de Sistelo às margens do rio Vez; atravessa o rio; passa por uns passadiços integrados na Ecovia do Vez e, por fim, sobe de volta a Sistelo.
Caracterização do Trilho dos Passadiços de Sistelo
- Tipo de percurso | Circular e sinalizado
- Início e fim | Cruzeiro da aldeia de Sistelo
- Extensão total | 2 km
- Duração média | 1 hora
- Nível de dificuldade | Fácil
Dicas importantes
- O Trilho dos Passadiços de Sistelo implica atravessar o rio Vez junto à Praia Fluvial de Sistelo (por uma espécie de dique – ver foto em baixo). No inverno ou após fortes chuvadas, o mais certo é essa passagem estar submersa. Por isso, não conseguirá chegar aos passadiços. Se o quiser fazer, quando iniciar a caminhada na aldeia de Sistelo, em vez de seguir a placa “Passadiços de Sistelo”, deve seguir a placa “Ecovia”. Depois é só regressar à aldeia de Sistelo pelo mesmo caminho.
- Para quem tem pouco tempo disponível, não esteja em boa condição física e viaje com crianças pequenas, em vez de fazer a Ecovia do Vez, a melhor opção é ficar-se pelo Trilho dos Passadiços de Sistelo. Caso contrário, recomendamos vivamente que opte pela Ecovia do Vez (a qual inclui, de qualquer forma, os Passadiços de Sistelo).
Onde comer perto da Ecovia do Vez
Há 2 restaurantes em Sistelo, onde ainda não fomos, mas que têm excelentes avaliações. São eles o Cantinho do Abade e a Tasquinha Ti-Mélia.
Outra alternativa, é ir comer aos Arcos de Valdevez.
Onde ficar alojado
Em Sistelo, existem algumas opções de alojamento que lhe permitirão conhecer verdadeiramente a aldeia, sobretudo de manhã cedo e ao final do dia, quando a maioria dos turistas está ausente. Outra alternativa, é ficar alojado nas proximidades. Eis as nossas recomendações:
- €€ Casa da Ferreirinha, em Sistelo
- €€€ Quinta Lamosa, entre Arcos de Valdevez e Sistelo
- €€ Ribeira Collection Hotel, em Arcos de Valdevez
- €€ Luna Arcos Hotel Nature & Wellness, em Arcos de Valdevez
Outros trilhos sinalizados em Sistelo
- PR 14 – Trilho das Brandas do Sistelo (8,5 km, circular)
- PR 24 – Trilho dos Socalcos de Sistelo (5 km, circular)
- PR 19 – Trilho das Pontes de Sistelo (1 km, circular)
- PR 27 – Trilho do Miradouro da Estrica (4,5 km, circular) – É possível ir de carro a este miradouro.
- PR 6 – Trilho do Glaciar e Alto do Vez (12,4 km, circular)
A importância do rio Vez e de Sistelo
O rio Vez integra a lista de Sítios de Importância Comunitária da Rede Natura 2000 (Rede Ecológica da União Europeia) e está classificado como área protegida, devido à relevância da sua fauna e flora.
Por sua vez, Sistelo foi eleita uma das “7 Maravilhas de Portugal” na categoria Aldeia Rural e, no final de 2017, foi classificada como monumento nacional, enquanto paisagem cultural, essencialmente devido aos seus socalcos.
Outros artigos do Norte de Portugal
Caminhada realizada no dia 23 de Dezembro de 2018
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Solicito e agradeço o envio regular dos Vossos programas, datas e preços para seleccionar os que mais me interessam efectuar. Cumprimentos. Francisco Rodrigues
Caro Francisco, obrigado pelo seu interesse. Porém, nós não organizamos passeios em grupo. O nosso site serve para dar a conhecer lugares e experiências que nós gostamos e motivar os nossos leitores a viajar e conhecer mais.
So uma pequena correção a vaca é de raça cachena típica do alto Minho e não de raça arouquesa de Arouca onde se situam os passadiços do Paiva
Tem toda a razão! Vamos corrigir.
Obrigada pelo vosso comentário,
Muito interessante o vosso testemunho sobre as nossas terras.
Adoro a forma como descrevem as vossas viagens ou passeios, não só apenas com as partes boas, mas também com as menos boas, que na verdade acontecem a todos, mas das quais na maior parte das vezes, ninguém fala .. muitos parabéns!!
Obrigado pelas suas palavras Idalina. As viagens, como a própria vida, são feitas de momentos bons e momentos menos bons. Temos de tentar que os momentos bons sejam a maioria 🙂
Obrigado pela partilha destes momentos, adorei a vossa cronica, bem como as magnificas fotos! Conseguiram despertar-me o interesse em conhecer ao vivo, espero que em breve.
Gostei imenso do texto e das fotos. Simples, honesto e despretensioso. Que mais posso dizer, fizeram-me gostar desse local sem nunca ter lá estado…
Achei excelente a descrição do local e adorei as fotos. Este tipo de artigo é uma óptima ideia para dar a conhecer ao Mundo as belas paisagens do nosso país e também para termos a ideia do que vamos encontrar pelo caminho, nem sempre vamos bem preparados e equipados para este tipo de percurso.
Parabéns gostei muito do vosso artigo.
Obrigado pela magnifica descrição dos passeios. Vai ser agora que irei conhecer os passadiços do rio Vez e a aldeia de Sistelo.
Olá Mário, ainda bem que demos o “empurrão” que faltava. Boas viagens à solta!
Obrigada pelo vosso artigo com boas descrições e lindissímas fotografias. Deu-me muita vontade de fazer o percurso. Se tiverem tempo para responder queria vos perguntar se será fácil fazê-lo de bicicleta? Pelas vossas fotos fiquei com dúvidas, e se não é mais fácil ir do Sistelo para Vilela? Obrigada e parabéns1 Vou continuar a espreitar o vosso blog
Olá Sofia, gostaria de ajudar, mas não sei se é possível fazer o percurso de bicicleta. Não me parece, porém, recomendável porque os passadiços são para se andar a pé. Quanto à segunda pergunta, penso que é indiferente fazer o percurso numa ou noutra direção. Beijinhos e vamo-nos “encontrando” por aqui 🙂
Obrigada Sofia pela rápida resposta, e ajudou muito. Já fui ver outros artigos vossos, tenho estado a gostar muito, dso textos, das indicações, e das fantásticas fotos! Boa continuação!
Parabéns Paulo e Sofia ! O vosso artigo com fantásticas fotos, transmite uma simplicidade e sentido para a importância da natureza a todos os que gostam de caminhar por trilhos de grande interesse paisagístico e ambiental.
Não importa se a distância é longa ou curta – significa viajar na nossa consciência, procurar equilíbrio entre o corpo e o espírito.
Obrigado pelas vossas dicas.
Caro Abel, muito obrigada pelo seu comentário. Era mesmo essa a mensagem que queríamos transmitir. Ainda bem que o conseguimos e oxalá mais pessoas se revejam nas suas palavras e façam este trilho não porque está na moda, mas pelo prazer de sentir a natureza.
Boa tarde. Excelentes fotografias, de um realismo fenomenal. Até dá vontade de entrar nas fotos visto que parece que estamos na realidade nos próprios locais. Estão de parabéns. Os locais eleitos são de bastante interesse e de grande contacto com a natureza. Obrigada por partilharem com uma parte escrita mais poética e abaixo com a ficha técnica sucinta e prática dos trilhos visitados. Para mim a vossa informação está a ser útil no momento como dados para organizar uma viagem que queria fazer. Muito obrigada e boas viagens à solta.
Querida Bárbara, que bom ler o seu comentário. Gratos por nos motivar a continuar!
Obrigada pela excelente partilha. Queria apenas referir que na aldeia de São Sebastião existe serviço de táxi. E uma vez que a ecovia é longa deixo aqui o contacto do Sr. Abel que se trata de um simpático taxista que pode auxiliar quem procura transporte para voltar ao ponto de partida onde por vezes são deixados os carros. Taxi Abel Gonçalves – 966924137.