Ao contrário da maioria das pessoas, é no outono que eu mais gosto da Serra da Estrela, quando ainda não está muito frio e as árvores se enchem de cor.

Manteigas é um ninho branco no meio das serras, por esta altura pinceladas com o verde dos pinheiros, o dourado dos castanheiros e o laranja das faias. Das chaminés de algumas casas, sai fumo e imagino grandes lareiras de pedra como a que havia na casa do meu avô, os primos todos sentados à volta do fogo em bancos corridos de madeira, com pauzinhos na mão, a brincar com as brasas e as pinhas.

Ao caminhar pela serra, relembro também os tempos em que apanhava castanhas com a minha mãe, cheia de cuidado para não me picar enquanto abria os ouriços com os sapatos. Recordo ainda a alegria de quando fazia um magusto com as outras crianças, saltos por cima da fogueira e no final, mãos na cinza e toca a pintar a cara uns aos outros, acabando todos pretos e farruscos.

Mais recentemente, tenho ido apaixonada à serra e, a dois, temos descoberto locais mágicos na zona de Manteigas, como o Poço do Inferno, a Rota das Faias e o Covão D’Ametade.

Este ano, revisitámos esses três sítios incríveis, mas eu queria mais. Queria fazer uma rota circular, de 11 km, com um nome engraçado: a Rota do Javali. No total, seriam 5 horas de caminhada serra acima até à cascata do Poço do Inferno e, depois, ainda mais além, para uma vista fantástica do ponto mais alto, segundo me disseram. O regresso seria, então, sempre a descer até Manteigas.

Tínhamos, porém, de voltar para Lisboa ao final da manhã e não dava para fazer o percurso completo. Tanto teimei que convenci o Paulo a fazer a primeira parte do trilho: 3,5 km para cada lado, com partida junto ao Hotel Berne. Passámos primeiro por algumas casas com hortas no quintal, depois por campos, num dos quais andava um sorridente pastor com cabras e ovelhas. Retribuindo o cumprimento, continuámos a andar, parando de vez em quando para contemplar a vista panorâmica sobre Manteigas, até entrarmos numa floresta belíssima, com muitas árvores cheias de cor, o chão coberto de folhas, ouriços e castanhas.

Apesar da tristeza de ter de voltar para trás, senti-me tão bem que nunca esquecerei este passeio pela serra e um dia voltarei para completar a Rota do Javali, de preferência no outono.

Caminhada feita em 8 de Novembro de 2015

Mais informações sobre a Rota do Javali em: www.manteigastrilhosverdes.com

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One Comment

  1. Como sempre é um prazer entrar convosco nas paisagens através das fotos belíssimas do Paulo e das palavras sentidas da Sofia. Abraço!

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