Perto de Lisboa, há dois locais para matar as saudades das árvores: o Parque Florestal de Monsanto, próximo do centro da cidade, e a Serra de Sintra, a cerca de 40 minutos de distância.
Ultimamente, temos ido para Monsanto, onde já existem percursos pedestres sinalizados. No último sábado, para variar, fomos para a Serra de Sintra, onde também há rotas marcadas, nomeadamente o PR 6 – Rio da Mula (11,3 km), o PR 10 – Peninha (4,5 km) e o PR 11 – Capuchos (4,9 km).
Ao procurar informação sobre o PR 6 – Rio da Mula, tomámos conhecimento de um caminho próximo – o Trilho das Pontes – que nos iria deixar deslumbrados.


Subindo o estradão florestal
O Trilho das Pontes tem início e fim no parque de estacionamento da Barragem do Rio da Mula, na Serra de Sintra. Construída pela Câmara Municipal de Cascais em 1969, a represa destina-se a abastecer o concelho de água. Quem não a conhece, pode subir o muro de 18 metros de altura que a suporta e vê-la de frente a partir da passagem que aí existe.
Diante do parque de estacionamento, há um largo caminho de terra que circunda a barragem. É por aí que avançamos. Uma vez que, nesta altura do ano, o nível da água é bastante baixo, conseguimos atalhar, saltando de pedrinha em pedrinha, para a outra margem.
Depois, em vez de seguir as marcas de pequena rota (amarelo e vermelho) do PR 6 – Rio da Mula, virámos à esquerda e subimos por um estradão florestal. Esta é a parte menos interessante do percurso, não só porque a subida cansa, mas também porque a floresta – tão diferente da que existe no resto da Serra de Sintra – é composta maioritariamente por pinheiros, eucaliptos e acácias. Decidimos, porém, começar o trajeto por aqui, para deixar o Trilho das Pontes propriamente dito para o fim e terminar em beleza.

Toda a zona florestal que circunda a barragem do rio da Mula é a Tapada do Saldanha, uma área ecologicamente degradada. Outrora terreno real de caça e agrícola, é atualmente propriedade da empresa pública Parques de Sintra – Monte da Lua, a qual tem procurado recuperar a vegetação autóctone e controlar espécies exóticas invasoras, com vista a restituir a floresta nativa, potenciar a biodiversidade e reduzir o risco de incêndio.
De um lado e do outro do estradão, vemos plantadas pequenas árvores de espécies como medronheiro, castanheiro, aderno-de-folhas-estreitas, carrasco, carvalho-alvarinho e sobreiro. Umas já secaram, outras crescem devagar e com dificuldade, ao contrário da invasora acácia, pujante e imparável.
Enquanto andamos, ouvimos vozes. Prestamos atenção e paralelamente ao estradão, no fundo da floresta, entrevemos um caminho estreito e uma ou outra pessoa. É pelo Trilho das Pontes que vão e nós também aí chegaremos, não tarda nada.



De ponte em ponte pela floresta fora
Quando o estradão se aproxima desse caminho estreito e depois de passarmos uma pequena ponte, invertemos o sentido da marcha. Faremos agora o trajeto na direção contrária, caminhando por esse carreiro, no meio do arvoredo denso e sombrio.

O percurso atravessa mais de 20 vezes o rio da Mula, sempre em pequenas pontes de madeira. Uma vez que é verão, não ouvimos a água a correr. No entanto, a floresta está cheia de sons. Dominada pelas acácias – uma praga oriunda da Austrália mas que aqui empresta um ambiente admirável – é um lugar escuro, que range e está vivo. As árvores parecem zangadas. Contudo, também emitem ruídos semelhantes a beijinhos. Umas estão tombadas no chão ou sobre outras, enquanto a maioria tenta chegar à luz do sol. Por essa razão, os seus troncos são estreitos, compridos e despidos de folhagem, a não ser nas alturas.



Estamos num cenário de histórias fantásticas. Nós somos as personagens principais vivendo aventuras e caminhando de ponte em ponte num espaço encantado e as acácias uns monstros destruidores que nos tentam seduzir com beleza e beijinhos.



Guia prático
Onde começar o Trilho das Pontes
A forma mais fácil de se chegar ao início do Trilho das Pontes é de carro. O acesso à barragem do rio da Mula faz-se pela estrada nº 1335, uma variante da N9-1, na vertente sul da Serra de Sintra.
Caracterização do Trilho das Pontes
- Tipo de percurso | Circular
- Extensão | 4 km
- Duração | Cerca de 1 hora
- Grau de dificuldade | Fácil
- Ponto de partida e chegada | Barragem do rio da Mula
- Sinalização | Trilho não sinalizado
Mapa do trilho

Dicas
- O Trilho das Pontes é um passeio que pode ser feito por toda a família, com exceção de pessoas com mobilidade reduzida;
- O que levar | Roupa e calçado confortáveis (de preferência de caminhada); mochila pequena; água; comida e um saco para o lixo;
- Época aconselhada | O trilho pode ser feito em qualquer estação do ano, mesmo no verão, já que as temperaturas nunca são elevadas na Serra de Sintra. Nos dias de chuva, o piso pode tornar-se escorregadio.
Recomendações
- O Trilho das Pontes é frequentado por aficionados de BTT que às vezes circulam a grande velocidade. Tenha cuidado e desvie-se do caminho;
- Tenha também algum cuidado ao atravessar as pontes, porque são feitas com pequenos troncos de árvores e alguns são espaçados entre si, pelo que existe o risco de se meter o pé nos buracos;
- Respeite o sossego do local, evitando falar alto ou fazer barulho;
- Não deixe lixo à sua passagem. Transporte-o consigo e deposite-o nos locais apropriados.
Alojamento
Em Sintra, existem muitas opções de alojamento e de certeza que encontrará um que lhe agrade. Eis as nossas recomendações:
- €€€€ Penha Longa Resort
- €€€ Vila Gale Sintra
- €€ Sintra1012 Boutique Guesthouse
- €€ Villas de Cintra (Apartamentos)
- € Casa Azul Hostel
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Adorei o artigo! Ja muito passei por essas pontes, em BTT, mas irei la um dia destes passear tambem com a familia. Gostei tambem das dicas dos alojamentos
Obrigado Sofia, pela excelente descrição deste trilho, das pontes.
Para quem não sabe este trilho, como está, é mantido pelos amantes da BTT. Conheço uma das pessoas que faz a manutenção das pontes de madeira e limpa regularmente este belíssimo trilho.
Pela segunda vez fiz este percurso, da primeira acompanhado, ontem sozinho. Com recurso a esta publicação, lá fui eu à aventura num final de dia relaxante, onde se destaca o som da natureza, o cântico dos pássaros e o som do rio a serpentear de ponte em ponte.
Muito obrigado