Se pensava, como eu, que a Serra da Estrela era apenas neve e queijo, fique a saber que é mais, muito mais! As montanhas são, sem dúvida, uma fonte de beleza ímpar para quem adora a natureza. Se gosta de caminhar, de um pouco de aventura e tem pelo menos condição física média, leia o artigo até ao fim. Apresento-lhe um dos melhores trilhos que poderá fazer em Portugal.

Fim-de-semana de novembro, sol e um frio de rachar, decidimos ir passar dois dias à Serra. O plano tinha como objetivo perseguir as cores de outono, fugindo aos sítios que já conhecíamos, em especial a estrada que liga Seia à Covilhã.

Pernoitámos em Manteigas, depois de termos visto tudo o que havia para ver na região de carro, o que nos encheu as medidas, mas essa parte é óbvia e não é o propósito deste artigo.

Miradouro para uma queda de algumas centenas de metros

No domingo de manhã, depois de consultarmos os folhetos disponíveis no hotel, decidimos fazer o trilho do Poço do Inferno, pois era o mais acessível (tendo em conta o nosso tempo limitado) e vendiam uma tal de cascata.

Não tínhamos grandes expectativas, mas mudámos de ideias mal tomámos a estrada em direção ao ponto onde começava o trilho. As cores de outono são fantásticas, magníficas, diria mesmo. É um prazer conduzir numa estrada assim, sempre ladeada de árvores multicolor, algumas das quais via pela primeira vez em Portugal.

O esplendor das cores de outono

No início do percurso, há um larguinho onde se pode estacionar o carro. Nós assim fizemos e parámos para consultar a placa informativa sobre o trilho.

Trilho Poço do Inferno

  • Extensão: 2.5 Km (não se deixem enganar …)
  • Duração: 1h30 (a nós demorou-nos muito mais tempo, devido às pausas para apreciar a envolvência  e tirar fotos)
  • Altitude: entre os 1100m e os 1150m (há sítios de autêntica escalada, botas com boa tração são obrigatórias)
  • Coordenadas: 7º31’03,88″W  40º22’24,81″N
  • Tipo de percurso: circular
  • Dificuldade: média (é sempre relativo 🙂 )
  • É sugerido fazer o percurso na direção contrária à dos ponteiros do relógio e nós concordamos (não vamos explicar porquê, senão perderia a piada, mas é mesmo boa ideia fazer nesse sentido). Adicionalmente, nós aconselhamos que seja feito no mês de novembro para poder desfrutar de paisagens com cores magníficas. Como medida de segurança, não aconselhamos que seja feito com chuva, por se tornar perigoso na zona dos xistos.

O percurso começava escarpa acima e lá fomos nós decididos, com passo firme. Mal subimos um pouco, a vista tornou-se deslumbrante. O vale do Zêzere estava salpicado de dourado, misturado com verde, fazendo um contraste muito bonito com o céu azul.

Esta fase inicial do percurso é a mais complicada e requer atenção e cuidado. Há imensas pedras soltas que poderão provocar uma valente queda pelas rochas abaixo.

O primeiro ponto de interesse é uma linda cascata que escorre musicalmente pelo fundo de um pequeno vale rochoso. As pocinhas de água cristalina convidam a um mergulho, mas basta molhar a mão para perceber que aquela água se encontra muito próxima do ponto de congelamento.

Subindo pelas rochas acima, o percurso continua até uma espécie de trilho de xisto feito pelo homem. Grandes placas de pedra foram cuidadosamente colocadas para permitir uma passagem facilitada nas íngremes montanhas. Há que ter especial atenção ao trilho, pois nem sempre é fácil perceber para onde segue, principalmente se, tal como eu, ficar siderado a apreciar a paisagem.

Passada a zona rochosa, assim como várias cascatinhas e uma ponte de madeira, o caminho segue pelo meio de bétulas, castanheiros, umas árvores parecidas com cedros e os salpicos do vermelho vivo das sorveiras bravas. Chega-se a um ponto em que os castanheiros são tantos que parece que nos enterramos na folhagem caída. É muito divertido pontapear todas aquelas folhas 🙂

Por fim, chega-se à estrada de asfalto. O regresso é rápido e fácil, permitindo novamente a contemplação das verdadeiras cores de outono.

Se quiser mais informação sobre este percurso, poderá consultar a brochura e informação disponível em: www.manteigastrilhosverdes.com

Onde comer

Para terminar em beleza, depois do passeio, aconselho uma Feijoca – o prato tradicional de Manteigas – que consiste numa espécie de feijoada de feijões gigantes. É daquela comida que nos deixa mesmo refastelados e aconchegados num dia frio.

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8 Comentários

  1. Parabéns pela excelente descrição e fotografia em perfeita sintonia. Reflexos do belo passeio. Cumprimentos. Miguel Serra

  2. Muito giro, fica a sugestão.
    Ja agora, conhecem o trilho do xisto da Benfeita? Fica a sugestão (e mais acima da Benfeita, a fraga da pena)

  3. Obrigado pela dica, Nuno Coelho. 🙂

  4. Muito interessante. Parabéns pelo vosso excelente trabalho de divulgação de locais magníficos. Alguns aqui tão perto. Este percurso em Manteigas, até ao Poço do Inferno é de risco? É desaconselhado ser feito sozinho? Ou melhor em grupo? Obrigado Paulo.

  5. Arnaldo, nunca é boa ideia andar sozinho na natureza, seja onde for. Porém, este trilho não contempla grandes riscos. Apenas é preciso ter cuidado às rochas escorregadias se estiverem molhadas. 🙂

  6. Sabia da existência do Poço do Inferno, mas nunca tinha ido lá nem tão pouco sabia existir este trilho. Percorri-o recentemente. É maravilhoso andar por la no meio daquele mundo dourado…
    Um grande Bem Hajam pela vossa partilha.
    Continuação de bons passeios.

  7. Fascinante! Fiquei com imensa vontade de realizar o trilho.
    Acredita que uma criança de 6 anos consegue fazer este trilho?
    Obrigada

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