Por certo já ouviu falar das Berlengas. Mas sabe o que há para ver e o que se pode fazer neste pequeno arquipélago? Eu não sabia. Pensava que eram umas ilhas perdidas ao largo de Peniche e, confesso, nunca me despertaram grande interesse.
Só quando o jornal britânico “The Times” elegeu o parque de campismo da Berlenga o melhor da Europa é que fiquei curiosa e com vontade de acampar na ilha. Esse desejo cresceu ainda mais quando soube que se trata de uma reserva natural, declarada Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO.
Mas espera, é Berlenga ou Berlengas?
Berlengas é o nome do arquipélago que é constituído por três ilhas, a maior das quais se chama Berlenga. É esta ilha maior – a única habitada – que se pode visitar, havendo várias empresas que fazem a ligação de barco a partir do porto de Peniche. Por ser uma reserva natural, só 350 pessoas a podem visitar por dia e apenas de Maio a Setembro.
Partida de Peniche
Peniche fica a cerca de 1h de carro de Lisboa, 2h30 do Porto. Por isso, uma visita à ilha é uma excelente opção para passar um fim-de-semana diferente. A travessia de barco pode ser bastante acidentada e tem fama de provocar grandes enjoos. Nós tivemos sorte: apesar do barco abanar bastante, não vimos ninguém a vomitar, embora houvesse passageiros com má cara. Se tiver menos sorte, lembre-se: são apenas 10 km de distância, cerca de meia-hora de viagem. Além disso, são mais as pessoas a rirem-se e a divertirem-se com a ondulação do que a enjoarem.
Poderá optar por ir de manhã, passar o dia na ilha e regressar a meio da tarde ou ir num dia e regressar no outro. Nós decidimos passar a noite na ilha, mas avisamos: é preciso estar preparado…
Chegada à Berlenga
Atenção: a Berlenga é a maior das três ilhas que constituem este arquipélago, mas isso não quer dizer que seja grande. Na verdade, tem aproximadamente 1,5 km de comprimento por 800 metros de largura.
A primeira coisa que me impressionou à chegada foi a limpidez e a cor da água, de vários tons, predominando o verde-esmeralda. Depois, foi o facto de não existir uma única árvore em terra, apenas alguma flora rasteira, cujo verde contrasta com a rocha rosada que compõe a ilha.
A pé pela Berlenga
Por se tratar de uma reserva natural, aqui não há ruas nem carros, apenas trilhos marcados para as pessoas caminharem, nomeadamente: o “Trilho da Berlenga” e o “Trilho Ilha Velha”, ambos com 1 km de extensão e duração aproximada de 1 hora.
Mas já lá vamos. Agora acabámos de chegar ao cais da Berlenga. Desembarcámos, ajeitámos as mochilas às costas e só há um caminho a seguir. Por isso, toca a subir.
Primeiro, até ao Bairro dos Pescadores, que foi construído em 1941 para albergar a comunidade piscatória instalada na ilha, hoje composto por cerca de 30 casas. É aqui que fica o único café/restaurante, uma pensão, casas de banho e um mini-mercado.
É também no Bairro dos Pescadores que começam os dois percursos pedestres atrás mencionados. Optámos inicialmente pelo Trilho da Berlenga, em direção ao Forte de S. João Baptista, uma das grandes atrações da ilha, onde tínhamos alojamento marcado para essa noite.
Trilho da Berlenga (1 km)
- Duração aproximada: 1h
- Grau de dificuldade: médio (declive muito acentuado)
- Tipo de itinerário: linear
- Ponto de partida: Bairro dos Pescadores
- Ponto de chegada: Forte de S. João Baptista
Continuemos então a subir. Um pouco depois do Bairro dos Pescadores, chega-se ao parque de campismo, o tal eleito o mais “cool” da Europa. A vista para o mar esverdeado é fantástica, mas há que estar preparado para uns contratempos se estiver a pensar acampar: primeiro, não há árvores/sombras; segundo, as tendas estão todas pinceladas de branco das gaivotas (convém levar proteções, já que lavá-las não deve ser nada fácil); terceiro, tem de se tomar banho com água salgada (conselho de campista amigo: pode colocar um garrafa de água doce ao sol e tomar um banho quentinho ao anoitecer); quarto, prepare-se para acordar com o barulho ensurdecedor de milhares de gaivotas (se tiver sentido de aventura, vai ver que até vai gostar e encontrará aí motivos para rir).
Já lhe dissemos que as Berlengas são um importante habitat de nidificação e local de passagem migratória de milhares de aves marinhas?
Subindo um pouco mais, sempre acompanhados por muitas gaivotas, chega-se ao farol, o ponto mais elevado da Berlenga, o qual projeta um raio luminoso a cerca de 52 milhas de distância.
Do farol, o trilho segue então mais plano, descendo depois acentuadamente (prepare-se para a subida!) até ao Forte de São João Baptista.
Foi nesta fortificação do séc. XVII, sobre um ilhéu, que passámos a noite (não consegui convencer os meus companheiros de viagem a acampar).
Tal como acontece com o parque de campismo, também aqui é preciso estar preparado para algumas dificuldades. Logo para começar, o interior do forte está bastante degradado e tem um aspeto gasto. Se está à procura de luxos, esta não é uma boa opção para pernoitar. Depois, as cubatas (quartos pequenos que estão localizados na muralha do forte) são mesmo muito pequenas (ficámos numa) e não há roupa de cama, fronhas ou toalhas (tem de levar consigo) nem casa de banho privativa. Há duas casinhas pré-fabricadas no pátio central e o duche é com água doce, mais fria. Além disso, o gerador da água e da luz não está ligado todo o dia e deixa de funcionar à meia-noite. Por fim, se quiser comer e beber, também terá de transportar os mantimentos de casa.
Por esta altura, deve estar a pensar que tivemos uma experiência horrível, mas não. Há muito que não me via num sítio tão isolado e, passado o pânico inicial de não sabermos o que fazer para passar o tempo, à noite entretivemo-nos a jogar às cartas no bar do forte, onde um dos Amigos da Berlenga nos ofereceu uns jaquinzinhos bem bons, pescados nessa tarde.
Trilho Ilha Velha (1 km)
- Duração aproximada: 1h
- Grau de dificuldade: fácil (declive médio)
- Tipo de itinerário: circular
- Ponto de partida/chegada: Bairro dos Pescadores
No dia seguinte, resolvemos percorrer o outro trilho existente na ilha e foi então que tivemos real noção da quantidade de gaivotas que vivem na Berlenga, ao passarmos por zonas totalmente cobertas de penas, como se vê na foto em baixo.
Está preparado para ouvir o barulho que fazem?
Na altura em que fomos (em julho), havia muitas gaivotas bebé. Para evitar ser atacado – como aconteceu a um de nós – não deve aproximar-se de nenhum filhote, caso contrário as progenitoras ficam muito agressivas, fazendo voos rasantes e podendo até dar bicadas.
Praia do Carreiro do Mosteiro
Terminada a caminhada, que tal dar um mergulho nesta pequena praia com águas transparentes? Aproveite, porque é a única existente na ilha.
Passeio de barco
Finalmente e, porque ainda faltava algum tempo para regressarmos a Peniche, fizemos um passeio de barco para ver as grutas e outras formações geológicas à volta da ilha, incluindo rochas semelhantes a uma baleia e a um elefante.
Quem quiser também poderá alugar um caiaque. Já agora, se gosta do fundo do mar, sabia que as Berlengas são o principal ponto de mergulho da costa portuguesa?
Guia prático para visitar as Berlengas
O que levar
- Protetor solar e um chapéu, uma vez que não há sombras
- Calçado apropriado para caminhadas
Transportes
- Cabo Avelar Pessoa: www.viamar-berlenga.com
- Há embarcações de outras empresas que também permitem o acesso à ilha
Alojamento
- Forte de S. João Baptista/ Associação “Amigos da Berlenga”: www.facebook.com/aaberlenga
- Alojamento Mar e Sol: www.facebook.com/Restaurante-Berlenga-Mar-E-Sol
Parque de Campismo
Reservas:
Na sede da Reserva Natural das Berlengas:
Avenida Mariano Calado, nº 57, 2520-224 Peniche
Tel: (+351) 262 787 910
No posto de turismo de Peniche:
Rua Alexandre Herculano, 2520-273 Peniche
Tel: (+351) 262 789 571
Restaurantes
- Restaurante Mar e Sol: www.facebook.com/pages/Restaurante-Mar-e-Sol/
Websites úteis
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Boas viagens à solta!
Obrigada pela partilha. Muito útil!
Boa tarde, por acaso não tem fotos dos "quartos" no forte? Ouvi dizer que não têm janelas e estou um pouco preocupada com o frio �� já agora, sabe dizer-me o valor por noite?
Olá Mariana, não temos fotos dos quartos. Na altura em que fomos, já só arranjámos lugar nas cubatas, que são os quartos mais pequenos, com um janeluco. Para uma noite, serviu bem. Quanto aos preços, é melhor contactar diretamente a Associação dos Amigos das Berlengas, que é quem gere o forte e as reservas.
Muitos Parabéns pelo vosso blog! Muito inspirador e esclarecedor!
Não sei se sabem informar-me relativamente aos passeios de barco pelas grutas das Berlengas, quais os operadores que fazem esse tipo de passeios e onde se podem efetuar as respetivas reservas? Muito obrigada!
Obrigada, Susana. Não sabemos os nomes dos operadores. Contudo, na altura em que fomos às Berlengas havia vários barcos no cais das Berlengas que faziam esses passeios. Era só chegar e apanhar um…
Olá. Sabe me dizer como marcaram a volta de barco para as grutas? obrigada
Olá Helena, poderá ler a nossa resposta no comentário acima.
Boas para carregar os telemoveis e outros aparelhos como se faz? Quem vai acampar!
Beijinhos
Uma solução é levar "power-banks", outra poderá ser pedir no restaurante para carregar, outra ainda é não levar telemóvel para aquele paraíso e desfrutar em pleno da sua riqueza natural. 🙂
Olá! Primeiramente, parabéns pelo post. Vocês descreveram que há uma restrição de 350 pessoas/dia na ilha. Minha intenção é ir apenas para passar o dia. É possível realizar a reserva antecipadamente, para não ter risco de ficar de fora? Obrigada!
Olá! Segundo sabemos e baseados neste artigo do jornal "Público" (https://www.publico.pt/local/noticia/icnf-quer-limite-de-600-turistas-por-dia-na-ilha-da-berlenga-1737382), não é feito (ainda) qualquer controlo do número de visitantes. Seja como for, poderá confirmar isso diretamente com a Viamar, uma das empresas que faz o transporte marítimo entre Peniche e a Berlenga e aproveitar para reservar os bilhetes no barco. Contactos aqui: http://www.viamar-berlenga.com/contactos.html
boa tarde gostaria de saber se existe alguma actividade de mergulho nas berlengas se sim por quanto fica fazer mergulho
Não lhe sabemos responder… Com sorte, pode ser que apareça por aí algum leitor que possa ajudar 🙂
Obrigada pela partilha. Penso visitar em breve e de facto é bom conhecer experiências.
É para isso que aqui estamos 😉 Boa viagem!
Muito grata pelas informações, vão ajudar bastante na visita que farei, no próximo mês. Vou seguir o blog, parabéns!
Querida Simone, ficamos contentes por ter ajudado! Boa viagem e vamo-nos “encontrando” por aqui 🙂
Olá boa tarde, estive a pesquisar e este ano vamos passar lá na ilha uma noite. Obrigado pela informação pois já temos uma noção do que levar para acampar ✌️ Obrigado