Bulnes é uma das aldeias mais bonitas que visitámos no Parque Nacional dos Picos da Europa. Rodeada de montanhas, verde e paz, é uma das poucas aldeias em Espanha que não tem acesso por estrada. Vai-se a partir de Poncebos: ou num funicular subterrâneo ou a pé, por um trilho de montanha inesquecível.

Chegámos de funicular, ao final da tarde, quando a maior parte dos visitantes já tinha partido. Só ficaram na aldeia meia-dúzia de pessoas, além de galinhas, gansos, cães e um gato siamês peludo que nos acompanhou fielmente num passeio pela montanha. Acordámos da mesma forma que adormecemos: a ouvir o rio. Espreitámos curiosos pela janela do quarto e, se ontem os picos andavam a brincar às encondidas com as nuvens, hoje vêmo-los até ao céu azul.

De mochila às costas, esta manhã regressaremos a Poncebos, não de funicular, mas a pé, pelo caminho que até ao ano 2000 era a única via de comunicação entre Bulnes e o resto do mundo. O trilho desce como um risco pelas encostas íngremes das montanhas, com vistas magníficas sobre um desfiladeiro onde há muitíssimo tempo existiu um glaciar. O gelo cobria, então, a maior parte dos Picos da Europa e línguas glaciares enormes desciam entre eles. À nossa volta, há montanhas calcárias gigantescas onde o verde cresce sempre que pode. No meio, está o vale – umas vezes aberto, outras mais estreito – por onde corre um rio: ora junto a nós ora só um sussurro no meio de gargantas profundas.

Continuamos a descer – suavemente ao longo da maioria do trajeto, acentuadamente mais perto do fim. Até à ponte de Jaya, onde termina o percurso, cruzámo-nos com pessoas de várias idades: uns a correr, outros a caminhar calmamente, alguns com esforço, uma senhora a ajudar com a mão um cão já velhote na subida, dois senhores bem-dispostos com um cão chamado “Mendia” que significa “montanha” em Basco.

É tudo tão grandioso que as pessoas parecem pontinhos e o caminho uma linha na paisagem. Sinto-me insignificante, mas ao mesmo tempo plenamente eu, as minhas pernas em movimento, os pensamentos a formarem-se dentro de mim: eu viva. E todos sorrimos uns aos outros.

Guia prático para fazer a caminhada entre Bulnes e Poncebos

Caracterização do percurso

  • Início: Bulnes
  • Fim: Poncebos
  • Tipo: linear
  • Dificuldade: média-baixa
  • Extensão: 4 km (só ida)
  • Tempo estimado: 1 hora e 15 minutos (só ida)
  • Desnível: 500 metros
  • Bem sinalizado

Observações

  • O trajeto também pode ser feito na direção contrária, ou seja, partindo de Poncebos e terminando em Bulnes, sendo no entanto mais difícil, devido à acentuada subida inicial;
  • Quem quiser, poderá conjugar este trilho com a famosa Rota do Cares (entre Poncebos e Caín);
  • No verão, os fins-de-semana são muito procurados. Por isso, quem gosta de sossego deverá evitá-los e experimentar passar a noite na aldeia de Bulnes;
  • Nessa altura, também é difícil arranjar estacionamento em Poncebos, especialmente no parque de estacionamento junto ao funicular, já que comporta um número reduzido de carros. Em alternativa, é possível deixar a viatura em Arenas de Cabrales e aí apanhar um dos frequentes autocarros para Poncebos.

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3 Comentários

  1. Lugar lingo.. tive o prazer de conhecer em dezembro de 2017..
    Porem so conheci a aldeia pois subi no funicular.. pretendo fazer a caminhada agora no verão..

  2. Olá, adorei o artigo! Estou a pensar ir aos picos este ano, mas tenho um pequeno de 3 anos, é tranquilo fazer a descida com ele? Obrigada

    • Olá Andreia, com 3 anos ainda é muito pequenino para fazer este percurso, a não ser que o levem às costas 🙂 Em alternativa, há o funicular. Beijinhos e boa viagem pelos picos!

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