Chegámos de funicular a esta aldeia aonde as estradas não chegam. Estamos no meio de gigantes de pedra cinzenta que se elevam dos prados, de árvores e de um rio pedregoso que atravessámos por uma ponte de madeira.
Hoje, as nuvens vieram abraçar os picos – daí não os vermos na totalidade. Brincam todos às escondidas lá em cima: as nuvens, as montanhas, as azinheiras que se agarram ao calcário e as aves de rapina que de vez em quando saem a planar da neblina. As casas da aldeia – pedras que os pastores colocaram umas em cima das outras e que as gerações mais novas recuperaram – ficam ao lado do rio e têm portas e caixilhos de madeira, além de vasos cheios de flores. Há uma igreja e mais plantas – dentro de troncos, de panelas antigas, de um carrinho de mão, de botas que já foram de caminhada – emprestando cor às ruas empedradas. As galinhas andam à solta por onde calha. Subimos ao “Pueblu”, uma meia dúzia de casas mais acima, donde as vistas são magníficas. Dobrada uma esquina, dois gansos tentaram morder-me, mas não conseguiram, porque fui rápida a fugir. Ao jantar, comemos queijos e patés das Astúrias e bebemos sidra, acabando em cheio com uma tarte de queijo caseira. Depois, ao final do dia, um gato siamês peludo, que ao início nos ignorou com pachorra, acompanhou-nos numa caminhada íngreme pela montanha.
Hoje vamos dormir em Bulnes, a ouvir o rio. Há nozes na mesinha de cabeceira, uma flor campestre aos pés da cama e um bule antigo a sorrir-nos da janela. São momentos assim simples que quero guardar dentro de mim.
Amanhã vamos descer a pé até Poncebos, por um caminho que até há pouco tempo era a única via de ligação entre esta aldeia e o resto do mundo.





















Guia prático para visitar Bulnes
Bulnes situa-se a 649 metros de altitude, no maciço central dos Picos da Europa, no concelho de Cabrales. A aldeia divide-se em dois bairros: o maior, junto ao rio, é conhecido como “La Villa” e o outro, mais acima, como “Pueblu” ou “El Castillo”. Até ao ano 2000, a única forma de se chegar a Bulnes era a pé (1 hora e 15 minutos). Atualmente, um funicular liga, em 7 minutos, a aldeia à localidade de Poncebos, através de um túnel debaixo da terra. Os preços e os horários do funicular podem ser consultados aqui.
Onde dormimos
La Casa del Chiflón (reservas por telefone)
Onde comemos
La Casa del Puente (pertence aos mesmos donos da Casa del Chiflón). Apesar de haver mais alojamento e restaurantes na aldeia, poderão não estar abertos durante todo o ano e alguns só ao fim de semana, pelo que deverá informar-se com antecedência.
O que fazer
Para além de relaxar e respirar ar puro, Bulnes serve de base para várias caminhadas, como por exemplo:
- Bulnes – El Castillo (linear, fácil, 10 minutos)
- Bulnes – Mirador do Picu Urriellu ou Naranjo de Bulnes, um dos picos mais emblemáticos de Espanha (linear, fácil, 10 minutos)
- Bulnes – Base do Picu Urriellu (linear, difícil, 4 a 5 horas)
- Bulnes – Poncebos (linear, dificuldade média-baixa, 1 hora e 15 minutos)
- Bulnes – Majada de Arnández – Pandébano – Sotres (linear)
Quem gostar de observar aves não deverá esquecer os binóculos, porque os penhascos estão cheios de rapinas e de ninhos.
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Sencilla y perfecta descripción de este lugar. Se nota vuestra sensibilidad y amor por la naturaleza y las cosas sencillas. Muchas gracias Paulo y Sofía os deseamos toda esta familia, desde Bulnes.
Até breve Alberto. Voltaremos … 🙂
me encantam
Artigo com bastante interesse, devemos lá ir! 🙂
Belíssimo!!!
O bule, a janelinha rústica, as flores e cenários bucólicos remetem a alguns lugares da serra fluminense. Fazem parte dessa região as cidades de Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis que ficam no Estado do Rio de Janeiro.
O site de vocês permitem contemplar outras paisagens que encantam!
Querida Regina,
Quando formos ao Brasil, temos de lhe pedir umas dicas 🙂
Beijinhos de Lisboa