Lanzarote é, para mim, a ilha mais bonita das Canárias. Em primeiro lugar, porque não é um destino de massas. Pelo contrário, existe uma preocupação em proteger a beleza natural da ilha e em mantê-la única. Depois, e principalmente, porque nunca vi nada assim. A paisagem é quase toda preta e praticamente não há vegetação, devido às sucessivas erupções vulcânicas que, nos séculos XVIII e XIX, cobriram tudo de lava e cinza. Ainda assim, é invulgarmente bonita, convidando a passeios a pé e à introspeção.

As praias, o Parque Nacional de Timanfaya, as obras de César Manrique e as adegas são as minhas principais sugestões de visita.

1. As Praias

Há várias em Lanzarote, mas as que mais me encantaram foram a de Papagayo, a sudeste, e a de Famara, a nordeste.

A primeira está integrada no Parque Natural dos Ajaches. O que se paga para entrar nesta área protegida ganha-se em privacidade e acesso a uma praia virgem, protegida do vento, com areia branca e um mar calmo, de um azul mágico. Também vale a pena dar um passeio a pé pela paisagem vulcância envolvente, composta por formas geológicas surpreendentes.

A praia de Famara, considerada uma das melhores das Canárias para a prática de surf, é uma das mais bonitas que alguma vez vi, tendo-me transmitido uma sensação de bem-estar difícil de descrever em palavras. Aqui as montanhas por trás do extenso areal têm tonalidades verdes, apesar desta cor ser tão rara em Lanzarote.

Papagayo

Surfistas em Famara

2. O Parque Nacional de Timanfaya

De manhã bem cedo, dirigimo-nos ao Centro de Visitantes e Interpretação de Mancha Blanca para fazer a Rota de Termesana, a única caminhada permitida (e apenas na companhia de um guia) no interior desta zona protegida, onde se registou a maior atividade sísmica de Lanzarote.

Não podemos acompanhar o grupo que já aguarda à entrada do edifício, dizem-nos, porque não fizemos reserva prévia. “E nos próximos dias?” “Também não, está tudo esgotado.”

A pé e sem guia, só se quisermos fazer a Rota do Litoral (linear, 9 km, dificuldade alta), na periferia do parque, junto à costa. Em alternativa, podemos visitar Timanfaya de camelo ou, então, de guagua, ou seja, de autocarro.

Escolhemos o guagua. Dirigimo-nos à entrada do parque e compramos os bilhetes no ponto de controlo (Taro) aí existente. Cumprimentámos El Diablo, a divertida escultura de César Manrique, e aí vamos nós a caminho das Montanhas de Fogo.

Entrada do Parque Nacional de Timanfaya

Paisagem moldada pelo fogo

Felizmente ainda era cedo e conseguimos facilmente lugar num dos muitos autocarros que percorrem diariamente a Rota dos Vulcões. O percurso tem 14 km e dura cerca de 40 minutos. Ainda que não possamos sair do guagua, a paisagem lá fora é impressionante e surpreendentemente colorida, com predominância dos tons negros, castanhos, vermelhos e ocre. Avistamos diversos cones de vulcões, crateras, dunas de cinza e lapilli e, sobretudo, um imenso mar de lava solidificada, cujas ondulações e formas inesperadas não me canso de admirar.

No final, é quase hora do almoço. Por isso, dirigimo-nos a El Diablo, o único restaurante existente no parque, onde há opções para todas as carteiras. A grande atração, porém, não é a comida, mas um enorme grelhador sobre as profundezas da terra, cujo calor geotérmico é utilizado para cozinhar os alimentos – mais uma ideia de César Manrique, que também desenhou o edifíco.

Churrasco aproveitando o calor geotérmico

Não revelaremos como mas, nesse dia, conseguimos fazer parte da inesquecível Rota de Termesana, caminhando na paisagem inigualável da terra dos vulcões, por entre impressionantes campos de lava retorcida, a fazer lembar a lua ou o início do mundo como os imaginamos.

Quem gostar de caminhadas poderá também explorar o Parque Natural de Los Volcanes, que rodeia Timanfaya, bem como as estradas de terra batida no interior da ilha.

Além disso, vale a pena ver a lava a despenhar-se no mar num momento eterno e dezenas de mariolas, nas imediações de El Golfo, uma pequena praia (outrora cratera) com areia negra e um lago verde.

Parque Nacional de Timanfaya

Deambulando pelas areias vulcânias

3. César Manrique

Há homens que marcam lugares. É o caso de César Manrique (1919 – 1992), um artista visionário e multifacetado – foi pintor, escultor, arquiteto, paisagista – cuja obra está presente em toda a sua ilha-natal, tendo contribuído para a tornar ainda mais original ou, como era seu desejo, num dos “lugares mais belos do planeta”.

Foi também um ecologista e acérrimo defensor da preservação da natureza e património de Lanzarote, pugnando contra a massificação do turismo e a construção desregulada que nos anos oitenta começavam a ameaçar a ilha, conseguindo contagiar os outros habitantes, incluindo as autoridades locais.

Na sua obra ímpar, procurou igualmente a harmonia entre a natureza e a arte, de que são exemplos os Jameos del Agua, a sua casa de Tahíche (hoje sede da Fundação César Manrique), o Mirador do Rio e o Jardim dos Catos.

Os Jameos del Agua localizam-se num túnel vulcânico, nomeadamente na sua parte final, já junto à costa. Jameos é o que resta quando um túnel de lava abate. Nestes existe um lago onde vivem caranguejos cegos, símbolo deste lugar. Mas há mais, nas grutas, como um auditório belíssimo, como nunca vi.

Caranguejos cegos – símbolo dos Jameos del Agua

No interior dos Jameos del Agua

Nas proximidades, também gostámos de visitar a Cueva de Los Verdes, entrando nas entranhas da terra para explorar um pequeno troço do mesmo túnel vulcânico, que é um dos mais extensos e interessantes do mundo.

A Fundação César Manrique era a casa-estúdio do artista. Fica em Taro de Tahíche e também aqui Manrique tirou partido da natureza para explorar o seu génio criativo, aproveitando, neste caso, cinco caves vulcânicas para configurar um espaço habitável surpreendente, no nível inferior da habitação. Já na parte superior e exterior, inspirou-se na arquitetura tradicional de Lanzarote, abrindo amplas janelas sobre a língua de lava envolvente.

Casa de César Manrique

Interior da casa de César Manrique, com vista para os campos de lava

O Mirador do Rio situa-se na zona mais setentrional da ilha, a 400 metros de altitude, donde se pode contemplar o Parque Natural do Arquipélago Chinijo, uma das vistas panorâmicas mais deslumbrantes de Lanzarote.

Parque Natural do Arquipélago Chinijo

No interior do Mirador del Rio

Por fim, o Jardim dos Catos resultou do aproveitamento de uma antiga pedreira de extração de cinza vulcânica, transformado por Manrique num anfiteatro, no qual estão plantadas mais de 1400 espécies de catos, uma das poucas plantas que sobrevivem na ilha e que se vêem em todos os quintais.

No meio dos catos

Bolas de picos 🙂

4. As Adegas

Por mais extraordinário que tenha sido, não foi só Manrique que fez maravilhas nesta ilha selvagem, pintada de negro, onde as casas são brancas, de portas e janelas verdes. Também os outros homens da ilha conseguiram extrair do solo árido um delicioso néctar, proveniente de vinhas que – à semelhança das do Pico nos Açores – estão protegidas do vento e do sol por muros de pedra.

E que melhor forma há de celebrar uma viagem inesquecível do que com um brinde?

As pequenas videiras lutam por sobreviver num ambiente hostil

Guia prático para visitar Lanzarote

Bilhetes

  • Existem bilhetes combinados que permitem obter um preço mais reduzido na visita aos Centros de Arte, Cultura e Turismo de Lanzarote, nomeadamente: Cueva de los Verdes, MIAC – Castillo de San José, Jardín de Cactus, Jameos del Agua, Mirador del Río e Montañas de Fuego – Timanfaya. Os bilhetes podem ser comprados nos postos de turismo ou em qualquer dos referidos centros.

Onde comer

  • Restaurante Lilium, em Arrecife. Quem nos acompanha, sabe que gostamos de experimentar a comida local quando viajamos. Este restaurante oferece excelente comida canária, com um toque moderno. Não é muito barato, mas vale a pena;
  • Em El Goflo existem vários locais onde se come bom peixe fresco grelhado e marisco.

Compras

  • No centro histórico de Teguise, a antiga capital da ilha, realiza-se todos os domingos de manhã um mercado onde se vendem peças de artesanato e produtos naturais da ilha, como queijos, vinhos e artigos à base de catos e aloés. Mesmo que não se queira comprar nada, vale a pena visitá-lo não só pelo colorido, mas também pelo passeio nas ruas de Teguise.

Websites úteis

Vista do Castelo de Santa Bárbara, hoje Museu da Pirataria, nos arredores de Teguise

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