O lago Mývatn  [em português, “mý” (mosquito) e “vatn” (lago) = lago dos mosquitos] situa-se na zona nordeste da Islândia, sendo um dos locais mais interessantes e populares do país. É uma das atrações do roteiro “Diamond Circle” (em português, Círculo de Diamante) que compreende também as cascatas Dettifoss e Goðafoss, o desfiladeiro Ásbyrgi, a vila de Húsavík e toda uma zona rica em atividade vulcânica e geotérmica.

Locais que visitámos perto do Lago Mývatn

1. Húsavík

Húsavík é uma pequena vila costeira, famosa pelos passeios para avistar baleias no seu habitat natural. Tínhamos decidido que não íamos fazer este tipo de passeio, baseados em opiniões de pessoas conhecidas que tinham detestado. Mais tarde, acabaríamos por embarcar em Reykjavík para fazer um circuito semelhante, com a justificação de que, se não experimentássemos por nós próprios, nunca saberíamos como seria. Mas infelizmente confirmou-se: a viagem de várias horas torna-se monótona e os avistamentos não são em nada semelhantes ao que apregoam nos folhetos.

Húsavík, como vila de pescadores, é um bom sítio para comer peixe. Junto ao porto, há vários restaurantes com aspeto convidativo, ao contrário dos preços. Alguns deles oferecem descontos nos passeios dos cetáceos a quem lá jantar.

2. Mývatn

O lago Mývatn é o habitat de imensas aves aquáticas, nomeadamente patos, sendo um paraíso para os ornitólogos. Deixo um aviso para quem pretender passear pelas zonas pantanosas: levem lenços ou idealmente uma rede semelhante à dos apicultores. No verão, esta zona está infestada de mosquitos que, embora não piquem, são tantos e tão chatos que o passeio se torna um martírio.

Um dos sítios mais invulgares desta zona é o Vogafjós Cowshed Cafe, um restaurante paredes meias com uma vacaria. Enquanto nos deliciávamos com comida muito bem confecionada, tendo como base produtos locais, tínhamos vista para o lago, de um lado, e para o interior da vacaria, do outro.

Coberto de mosquitos e o restaurante/vacaria

Na zona leste, situa-se o parque Dimmuborgir que consiste em formações dramáticas de lava escura [em português, “dimmu” (escuro) e “borgir” (cidades) = cidades escuras]. O passeio a pé pelo meio das rochas afiadas de aspeto infernal vale a pena, fazendo-nos sentir que estamos num lugar que não faz parte deste mundo.

Dimmuborgir

Um pouco mais à frente, foi possível escalarmos os quinhentos metros do Hverfjall, um monte com origem vulcânica que teve a sua última erupção há mais de dois mil e quinhentos anos. Depois da sofrida escalada, contornámos a sua cratera com mais de três quilómetros no topo. O trilho estreito sobe e desce, repleto de pedras soltas, não sendo nada aconselhável a quem não esteja habituado a caminhadas e não tenha calçado adequado.

Escalada ao monte Hverfjall

A vista para o lado interior é sempre a mesma: um abismo negro que termina num pequeno monte interior no centro da cratera. Para o lado exterior, as vistas são magníficas sobre toda a zona do Mývatn, em especial o lago. É também possível observar o parque Dimmuborgir e os seus castelos negros, escarafunchado por trilhos, em que formigas humanas deambulam.

Vista do topo do Hverfjall

3. Dettifoss

A seguir, rumámos – pela estrada 862 – em direção à famosa cascata Dettifoss, que serviu de base para a cena inicial do filme “Prometheus”, constando como sendo a maior da Europa em termos de caudal. A 862, embora nos mapas pareça secundária, foi uma das estradas onde encontrámos melhor piso. Creio que terá sido melhorada com o propósito de dar acesso às hordas que visitam a Dettifoss. Quando chegámos ao parque de estacionamento, ainda havia neve por todo o lado, sendo parte do percurso a pé feito sobre o manto branco.

Depois da caminhada de cerca de um quarto de hora, evitando não enterrar as pernas na neve, chegámos à beira do rio e foi possível avistar a cascata. O ruído era ensurdecedor e a visão das águas que se precipitavam pelo desfiladeiro hipnotizante. Com muita pena minha, não foi possível ir mesmo junto à queda de água, devido à superfície estar ainda toda coberta de gelo. O tempo estava um pouco chuvoso e as fotos a serem, uma vez mais, motivo de frustração. Deambulei pela berma do desfiladeiro à procura do enquadramento perfeito sem grande sucesso, tendo por vezes escorregado no piso lamacento e por pouco não beijei o chão.

Quando me preparava para regressar, vi a Sofia – que já estava perto da saída – a gesticular efusivamente ao longe. Pensei que ela queria que eu me apressasse e então acenei-lhe como que dizendo que já ia, mas algo de estranho se passava, pois ela tinha a felicidade estampada no rosto. Depressa compreendi: o céu estava a clarear dando lugar ao sol que gerou um arco-íris fantástico junto à cascata! Quando cheguei, o lugar já estava repleto de fotógrafos, com os seus tripés armados, a disparar mais fotos por segundo que durante um golo do Ronaldo.

Dettifoss

No regresso, fizemos um pequeno desvio para ver de perto a Selfoss, a cascata que alimenta a Dettifoss. Esta, embora menos conhecida, merece também uma visita.

Selfoss

4. Hverarönd

Hverarönd é um parque onde a atividade geotérmica abunda, fazendo lembrar uma paisagem marciana devido ao seu solo alaranjado. Passear pelo meio do parque não é aconselhável aos fracos de estômago, por causa do cheiro nauseabundo a ovos podres. Existem várias poças com um líquido preto em ebulição e amontoados de pedras, semelhantes a chaminés, donde sai vapor ruidosamente.

Hverarönd

5. Krafla

Deixando Hverarönd, seguimos em direção ao parque Krafla, reparando nos vários avisos que surgiam ao longo da estrada, alertando para os perigos de ir para uma zona de atividade vulcânica recente. Curiosos e cheios de coragem, ignorámos de imediato as advertências, até porque os acidentes só acontecem aos outros…

Víti do Krafla

A anfitriã do parque é uma central geotérmica, com aspeto futurista, situada na base de um vale, com tubagens a estenderem-se pelas montanhas como braços de um polvo. A estrada é atravessada por um desses tubos, de diâmetro superior à altura de um homem, formando uma espécie de caixilho de porta.

Seguimos caminho até à cratera Víti, cheia de água azulada, onde se acentuava o contraste entre o laranja do solo, o branco da neve e o azul do céu. A meio da caminhada à volta da cratera, passa-se por um dos ruidosos pontos de captação de vapor para a central. Estas cúpulas semi-esféricas parecem tiradas de um filme de ficção-científica passado noutro planeta. Aproximei-me para observar melhor, apesar dos protestos da Sofia, o suficiente para ver os avisos de atmosfera venenosa, símbolos com caveiras e bonecos com fatos que lembravam astronautas.

Atmosfera perigosa

Fizemos ainda outra caminhada, de vários quilómetros, por campos de lava recentes, alguns deles criados no século passado. Esta é a terra do fogo e do gelo, onde a neve convive com as fumarolas oriundas do centro da terra. Depois do passeio, um cachorro-quente, comprado na banquinha estrategicamente colocada à entrada do parque, veio mesmo a calhar.

6. Mývatn Nature Baths

Depois de um dia de forte atividade pedestre, nada melhor do que uns banhos quentes para relaxar os músculos doridos. Os Mývatn Nature Baths, à semelhança da Blue Lagoon, são piscinas de água azulada no meio de campos rochosos de lava. Na minha opinião, são de qualidade inferior às da península de Reykjanes, mas o preço também foi aproximadamente metade e os músculos doridos agradeceram à mesma.

Não tenho fotos do lugar, mas podem consultar informação em inglês aqui: www.jardbodin.is/en/

Quando estávamos a relaxar, imersos na água, ouvimos alguém falar português. Olhei à voltei e reparei que eram duas mulheres, uma nos seus trintas e outra nos seus quarentas, debatendo-se por comunicar com uns rapazes espanhóis. Elas a falar português, eles com cara de quem não estava a perceber nada, até que decidiram enveredar pelo “portunhol”, na sua boa vontade tipicamente portuguesa. Aparentemente, a comunicação melhorou um pouco e, no meio daquela mistura auxiliada por gestos, lá se iam fazendo entender.

Bem vindo à terra de Sauron

Para variar um pouco, decidi ir ao banho turco, ficando lá a relaxar sozinho. A dada altura, a porta abriu-se e, para grande surpresa minha, entraram as portuguesas! Mantive-me calado, cumprimentando-as com um aceno de cabeça, não me desmascarando. Elas sentaram-se do outro lado e desataram a tagarelar, sem saberem que eu era português. Diziam que as piscinas eram uma maravilha, que aquilo sim era vida, que estavam com a pele ótima, etc. Uma delas acabou por dizer que estava com um belo bronze, mas que ali o senhor da frente (EU!) também tinha uma corzinha, ao contrário do resto das pessoas que encontraram. Quase que rebentei a rir e estive para dizer “Se calhar é porque também sou português”, mas contive-me e deixei a brincadeira prosseguir. Entretanto, fui passar-me no duche gelado e voltei para dentro, tendo elas novamente tecido comentários: “Ahh, devíamos fazer como este senhor, mas aquela água está tão fria …”. Para surpresa minha, a porta voltou a abrir-se e desta vez quem espreitou foi a Sofia, dizendo: “Então? Ainda ficas muito tempo? Temos de ir jantar!”. As duas portuguesas ficaram de olhos esbugalhados com cara de choque. Eu levantei-me, sorri-lhes e disse “Boa tarde, bom resto de viagem” e saí, ouvindo as suas gargalhadas do outro lado.

7. Goðafoss e Aldeyjarfoss

Abandonando a zona do lago Mývatn a caminho de Akureyri, fizemos duas paragens: a primeira na cascata Goðafoss que fica junto à Ring Road e a segunda na longínqua Aldeyjarfoss a caminho das montanhas interiores.

Goðafoss

A cascata Goðafoss [em português, “Goð” (deuses) e “foss” (cascata) = cascata dos deuses] deve o seu nome a um período conturbado da história da Islândia, por volta do ano 1000. Nessa altura, foi adotado o cristianismo como religião oficial, em detrimento da adoração aos deuses nórdicos, tendo sido lançadas às correntes tumultuosas da cascata várias estátuas pagãs.

Aldeyjarfoss

Chegar à Aldeyjarfoss não foi tarefa fácil! Depois de dezenas de quilómetros por uma estrada de gravilha poeirenta, cheia de buracos, chegámos a uma bifurcação em que ficámos indecisos. Uma placa enferrujada, pintada à mão, apontava para o nosso destino. Seguiam-se vários avisos de que se avizinhava uma “f-road”, isto é, uma estrada de montanha em que apenas têm permissão para circular viaturas com tração às quatro rodas. Avançámos, receosos de que tivéssemos de atravessar um rio. Felizmente, apenas uns pequenos riachos e alguma neve nos tentaram demover, mas sem sucesso.

A Aldeyjarfoss é uma cascata pouco conhecida, talvez devido à dificuldade em alcançá-la, mas não deixa de ser uma das mais espetaculares. O seu caudal sulca violentamente o caminho entre uma ravina de pedras basálticas, com as suas típicas formas geométricas a que já nos íamos habituando.

A fotografar uma família de ovelhas

Depois de uns dias intensos e fabulosos na zona do lago Mývatn, a segunda maior cidade da Islândia, Akureyri, esperava-nos.

Se gostou deste artigo, pode deixar um comentário e seguir o Facebook e o Instagram do Viagens à Solta. A si não custa nada e a nós motivar-nos-á a partilhar mais experiências de viagem.

Mais artigos sobre a Islândia:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *