No dia 24 de Novembro de 1973, Dakota, um avião da marinha norte-americana, foi forçado a aterrar de emergência na praia de Sólheimasandur, no sul da Islândia. Toda a tripulação sobreviveu.
No dia 4 de Junho de 2013, fomos à procura desse avião. Antes da partida, tínhamos visto fotos de uma aeronave cinzenta, sem portas nem janelas, no meio de uma paisagem a preto e branco. Apesar dos relatos que tínhamos lido referirem que era difícil de encontrar, pensámos que seria impossível não ver um avião no meio de uma praia de areia preta. Assim, assinalámos no GPS o ponto aproximado em que deveríamos virar à direita na “Ring Road”, a estrada N1 da Islândia.
À medida que nos aproximámos, reduzimos a velocidade e começámos a procurar um acesso no meio de uma planície infindável, estranhamente vedada por uma rede de arame ao longo de toda a estrada.
É preciso ir muito atento para encontrar uma abertura na vedação, mas ali estava ela. Só podia ser aquele o ponto de entrada. Virando à direita, a estrada depressa deixou de existir. O caminho adivinhava-se, todavia, pelos trilhos deixados pelos pneus dos outros jipes. Seguindo-os, iríamos dar certamente ao avião, mas não, passados vários quilómetros, fomos ter a um rio no fundo de um vale. Consultado novamente o GPS, os destroços estariam precisamente do outro lado.
Depois de várias considerações sobre se o jipe atravessaria ou não o rio, resolvemos caminhar ao longo da margem, para ver se seria possível passar a pé para o outro lado. Impossível. O rio era demasiado fundo. A corrente demasiado forte. Como é que as outras viaturas teriam conseguido?
Arriscámos meter o todo-terreno na água, mas recuámos à primeira pancada num pedregulho e sinais de derrapagem. Nada a fazer, tínhamos de voltar para trás. Fizemos o trajeto contrário em silêncio – o silêncio frustrado de quem não conseguiu o que desejava – enquanto dentro de nós gritávamos que queríamos ver o avião.
Já na “Ring Road”, não querendo desistir, optámos por voltar atrás e procurar outra abertura na vedação. Um carro encostado à berma da estrada chamou-nos a atenção. Olhando mais atentamente, ali estava outro acesso. O entusiasmo foi tanto que só mais à frente é que tomámos consciência de que o condutor daquele carro ia procurar o avião a pé, uma vez que a viatura em que se deslocava era um Hyundai i10!
Depois de vários quilómetros em que nos julgámos perdidos num deserto de areia preta, de avanços e recuos, encontrámos finalmente o avião. Parámos para o fotografar ao longe. Depois eu corri até ele, sentindo-me a personagem de um filme apocalíptico.
O tempo que passámos a explorar a aeronave e a espernear à volta dela foi tanto que, quando fomos embora, o condutor do i10 estava quase a chegar.
Para quem quiser aventurar-se, as coordenadas GPS são: 63° 27′ 32.49″ N 19° 21′ 53.16″ W
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