Recordo o dia de hoje dentro do calor do teu abraço… Acordámos pouco depois do sol nascer na costa sul do Japão, onde pequenas ilhas rochosas guardam cedros no meio do mar. Foram, porém, as montanhas que nos chamaram ao longe, as montanhas sagradas da península de Kii que atraem peregrinos há mais de um milénio. À chegada, passámos juntos entre dois cedros gigantes chamados marido e mulher. À nossa frente estava Daimon-zaka: uma escadaria de pedra ao longo da floresta que nos conduziu ao cimo dessas montanhas. Dizem que aí vivem espíritos: nos cedros, nas rochas, no vento, nos elementos naturais. São eles os primeiros deuses do Japão.

Caminhámos devagar, parando várias vezes para olhar demoradamente – e sentir com a ponta dos dedos – as árvores centenárias, os seus troncos tão largos e altos, a sua pele enrugada, as suas raízes. Era tudo silêncio, ouvindo-se apenas a água, alguns corvos e os cajados de madeira de outros caminhantes.

Subindo centenas de degraus, chegámos a Naichi Taisha, um dos três centros sagrados de Kumano Kodo, uma peregrinação baseada na adoração primitiva da natureza que, incluindo Daimon-zaka, se estende por 800 km.

É em Naishi Taisha que vive o “kami” (espírito xintoísta) da maior cascata do Japão. Além de um santuário xintoísta, há um templo budista e um pagode, que visitámos. Foi também aí que vimos – alegria! – as nossas primeiras cerejeiras em flor.

A montanha misteriosa continuava, todavia, a chamar-nos para dentro de si, onde reinam o silêncio e a paz. Por isso, continuámos a subir mais um pouco, percorrendo juntos o caminho dos homens que, há mais de mil anos, procuram unir-se espiritualmente com a natureza.

Guia prático para vistar Daimon-zaka

Existem duas rotas de peregrinação inscritas na lista de Património da Humanidade da UNESCO: o Caminho de Santiago, em Espanha, e o Kumano Kodo, no Japão. Do nosso plano de viagem constava apenas o pequeno percurso de Daimon-zaka (1 km, 30 minutos), mas gostámos tanto que acabámos por fazer mais uns quilómetros montanha acima.

Como Chegámos

Uma vez que comprámos o “Japan Rail Pass”, um passe de comboio que permite viajar pelo Japão durante vários dias, decidimos fazer o máximo da viagem através deste meio de transporte. Foram sete horas num comboio expresso e dois regionais, desde Koyasan até Katsuura, via Hashimoto. Ao longo da viagem, o número de ocidentais foi diminuindo até sermos apenas os dois no meio de pirralhos que iam ou vinham da escola e outros habitantes simpáticos que trocavam de assento connosco para que viajássemos juntos.

Katsuura, uma pequena localidade costeira, foi a nossa base para explorarmos Daimon-zaka. Aí apanhámos um comboio para Nachi e depois, mesmo à frente da estação, um autocarro para Kumano Naishi Taisha, onde fica a cascata e os templos. Saímos na paragem de Daimon-zaka, para fazermos o percurso a pé.

O que Comemos

Katsuura é a terra do atum, havendo vários restaurantes com excelente “sashimi” (pequenos pedaços fatiados de peixe cru, servidos com molho de soja, gengibre ou “wasabi”). Em  japonês, “sashimi” de atum diz-se “sashimi maguro” – caso ninguém no restaurante fale inglês.

Para terminar, vale a pena visitar o mercado de peixe local onde, pelas 7 horas da manhã, se realiza um impressionante leilão de atum.

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