Já vos vou levar a Split, apresentando-vos um guia prático para visitarem a cidade, mas antes vou-vos contar rapidamente a história de como apanhei um dos maiores sustos em viagem.
Eu e o Paulo chegámos a Split, a segunda maior cidade da Croácia, ao final da manhã. Passeámos um pouco e depois de almoçar, como estava bastante calor, decidimos ir procurar o apartamento que tínhamos reservado para descansar um pouco. O prédio está muito bem localizado, próximo do centro histórico, logo não é fácil arranjar um lugar para estacionar. Demos voltas e mais voltas ao quarteirão e nada. Por esse motivo, o Paulo parou à frente de uma garagem e pediu-me para ir ver se conseguia localizar o apartamento. Fácil – pensei eu – e saí do carro sem pensar em mais nada. Subi a rua e, na entrada de cada prédio, procurei a identificação da casa onde íamos ficar. Como não sou de desistir, continuei nos prédios seguintes, já noutra rua e depois noutra. Às tantas (e apercebi-me disto como se estivesse a cair das alturas dentro de mim) já não sabia onde estava. E logo me lembrei: “não tenho dinheiro nem cartão bancário nem telemóvel nem documentos”. Tinha saído do carro sem nada! “E agora?” Segurei as lágrimas, mas o coração não nos obedece e, nesse momento, já batia acelerado e toda eu tremia.
Como não sabia o que fazer, continuei a andar até avistar a estátua gigantesca de Grgur Ninski, um herói croata do século X. Nessa altura, convenci-me de que estava mesmo completamente perdida porque, como a vira de manhã, sabia que já tinha andado demais. Segurei novamente as lágrimas com um nó na garganta. Decidi, então, tentar fazer o percurso na direção contrária, na esperança de reencontrar algo que me fosse familiar e me levasse de volta ao carro. Quem me conhece, nesta altura, teria ficado muito preocupado comigo, sabendo da minha dificuldade em orientar-me. Lembro-me de, pelo menos, duas vezes no passado em que, para me armar e totalmente convencida de que sabia o caminho, apontei numa direção quando o caminho era precisamente no sentido oposto, acordando gargalhadas nas pessoas que me acompanhavam.
Desta vez, perdida em Split apenas com a roupa do corpo, só me tinha a mim. Comecei a fazer o caminho inverso e, se alguns prédios me pareciam familiares, outros não me diziam nada. Entretanto, já me esquecera do nome do apartamento em que íamos ficar e não sabia o número de telemóvel do Paulo de cor. Ia ter de pedir ajuda a alguém, mas provavelmente não iam acreditar na minha história. Eu própria não desconfiaria de quem ma viesse contar?
Talvez por influência da estátua de Grgur Ninski, que dizem dar boa sorte, numa rua decidi virar aleatoriamente à direita e, mais ou menos a meio, ali estava ele: o Paulo, sorridente a olhar para mim, sem fazer a mínima ideia do que eu tinha vivido. Quando lhe contei, disse-me que me tinha visto a caminhar cheia de confiança no cimo da rua. Queria que ele tivesse apitado, que tivesse ido a correr ter comigo, mas ele não podia saber o que se estava a passar – como ninguém pode saber o que se passa dentro de nós se não formos nós a dizê-lo.
Guia prático para visitar Split
Localização
Declarada Património da Humanidade pela UNESCO, Split fica no centro da faixa litoral da Croácia, no meio de montanhas calcárias pinceladas de verde e das águas azul-inesquecível do Adriático.
O que visitar
1. O Palácio de Diocleciano
É a grande atração da cidade. Acabado de construir em 305 a.C., por ordem do imperador Diocleciano, o palácio é um dos monumentos mais impressionantes do mundo romano. Dentro dos seus muros fica a cidade antiga, cheia de ruelas pedonais onde, além de restaurantes, esplanadas e lojas, os visitantes podem explorar vários tesouros, tais como:
- O Peristilo, um pátio interno que dava acesso à área sagrada do palácio onde, ao final do dia, é costume passearem “soldados romanos” e haver pequenos espetáculos de música da Dalmácia;
- O Templo de Júpiter;
- As passagens subterrâneas do palácio;
- A catedral (antigo Mausoléu de Diocleciano), de cuja torre se tem uma bela vista da cidade antiga.
2. Riva, o passeio marítimo
Fica mesmo em frente do palácio e é uma larga avenida junto ao mar Adriático – ladeada por palmeiras e esplanadas sofisticadas – onde senhoras croatas abastadas costumam passear os bebés ao final do dia.
Quanto tempo ficámos
Chegámos antes do almoço e partimos cedo na manhã seguinte. Uma manhã ou uma tarde é o tempo que recomendamos a quem planeia visitar a cidade, já que a singularidade de Split se concentra no Palácio de Diocleciano, onde ficam a cidade velha e as principais atrações. Mesmo assim, vale a pena ficar uma noite, para viver o momento passeando durante um final de tarde de verão, provando gelados, a comida e os vinhos da região, contemplando a beleza do mar Adriático e encantando-nos com as esplanadas e os monumentos a iluminarem-se. Foi num desses passeios que vimos, numa das praças mais movimentadas de Split, quatro jovens sentados demoradamente no telhado de um edifício: porque há cidades que, mais do que ver, é preciso sentir.
Onde comemos
- Uje Oil Bar, um restaurante com vários pratos do dia e tapas, situado no centro histórico de Split. Gostámos da decoração moderna, da boa apresentação dos pratos e da comida;
- Rizzo Sandwiches, uma lojinha de sandes feitas com pão caseiro e ingredientes à escolha do cliente. Fica já fora da Cidade Velha (mas relativamente perto), o que nos deu a oportunidade de vislumbrar a parte moderna de Split e a vivência dos habitantes locais.
Onde dormimos
É conveniente escolher um alojamento na Cidade Antiga (ou perto), já que é onde estão as principais atrações de Split. Nós ficámos no Comfortable in City Center, um bonito apartamento perto do centro histórico, com a desvantagem de ficar num terceiro andar sem elevador e de não ter estacionamento próprio (embora, combinando previamente com a proprietária, é quase certo que ela consiga arranjar um lugar).
O que visitar nas proximidades
- Trogir, uma cidade medieval muralhada, classificada Património da Humanidade pela UNESCO;
- As famosas ilhas de Hvar, Vis, Brac e Korkula, para as quais há ferries a partir de Split.
Se gostou deste artigo, pode deixar um comentário ou seguir o Facebook e o Instagram do Viagens à Solta. A si não custa nada e a nós motivar-nos-á a partilhar mais experiências de viagem.
Veja ainda:
- Roteiro de carro para visitar a Croácia, Montenegro e Bósnia-Herzegovina
- Dicas para visitar a Croácia, Montenegro e Bósnia-Herzegovina
- 22 curiosidades sobre a Croácia, Montenegro e Bósnia-Herzegovina
- O mundo fantástico dos Lagos Plitvice (como visitar)
- Mostar não (se) esquece
- A deslumbrante Dubrovnik
- Kotor: «o mais belo encontro entre a terra e o mar»