At the birth of the planet the most beautiful encounter between land and sea must have been on the Montenegrin coast. – Lord Byron

Noventa e tal quilómetros separam Dubrovnik de Kotor, as cidades mais bonitas da Croácia e do Montenegro, respetivamente. Atravessar a fronteira entre os dois países foi tranquilo e sem precalços, mas demorámos cerca de uma hora e meia – o que à distância temporal a que escrevo se nos afigura, todavia, como uns instantes.

A seguir à fronteira, a estrada e as paisagens passaram fugazes na nossa memória e foi só quando nos aproximámos do Adriático que se tornaram inesquecíveis. A estrada segue sempre entre o azul calmo e cristalino do mar e altas montanhas cinzentas e verdes, que descem suavemente em direção à água. Pelo caminho, parámos na pequena localidade de Perast, de onde se avista uma das paisagens mais fotografadas do Montenegro, nomeadamente duas ilhotas no meio de uma baía tão tranquila que parece um lago. Uma das ilhas chama-se Sveti Djordje (São Jorge), onde existe um mosteiro beneditino e um cemitério, e a outra Gospa od Škrpjela (Nossa Senhora do Rochedo), onde uma igreja com uma cúpula azul-celeste parece flutuar.

Reza a lenda que, há muito tempo, uns pescadores encontraram um ícone de Nossa Senhora debaixo de um rochedo na baía, uma descoberta que os levou a colocar mais pedras no local, de modo a formar uma ilha sobre a qual construíram uma igreja em honra de Nossa Senhora do Rochedo. Desde esse dia, sempre que ali passavam, lançavam uma pedra e, todos os anos, os principais dignatários da terra ainda cumprem a tradição de se dirigirem àquela zona da baía de barco, transportando mais pedras para atirar à água nas imediações de Gospa od Škrpjela. Enquanto a primeira ilhota não é aberta ao público, esta última é visitável através de barcos-táxi a partir de Perast.

A meio da manhã, sentámo-nos sem pressas numa esplanada com vista para as duas ilhas a comer uma torta Perast, uma especialidade local à base de amêndoa. Junto à água há uma praia, mas as praias do Montenegro e da Croácia geralmente não têm areia: ou têm seixos ou um simples paredão serve para pousar a toalha e apanhar sol.

Almoçámos e passámos o resto do dia em Kotor (Património da Humanidade), caminhando por ruelas labirínticas com calçadas de pedra beje e avermelhada. A cidade medieval é pequena e está muito bem preservada. Não circulam carros e as casas são quase todas de calcário e estreitas, com portadas de madeira pintadas de verde. Vimos praças, palácios, igrejas e outros edifícios históricos, cujos nomes e anos de construção estão claramente assinalados.

Kotor fica numa baía rodeada por montanhas grandiosas (a fazer lembrar fiordes) e, para mim, foi extraordinário ver a muralha que protegia a cidade a subir por uma encosta íngreme, a dar a volta bem lá em cima e a descer novamente a pique em direção às casas, na base.

À tarde, subimos ao topo das muralhas, para vermos Kotor das alturas. Demorámos cerca de uma hora a chegar ao ponto mais elevado. Não foi fácil (são mais de 1300 degraus), mas que importam as dificuldades passageiras quando se ganham momentos inesquecíveis?

Ao final do dia, fomos a pé até ao nosso hotel, já fora da cidade medieval. Caminhámos ao longo do passeio marítimo, passando por praias de rochas, pessoas a apanhar sol nos paredões e a nadar, o mar mesmo ao nosso lado de uma cor inacreditável, miúdos a andar de bicicleta – um dia de verão que recordo, azul e feliz.

Guia prático para visitar Kotor

A não perder

  • Caminhar pela cidade antiga, entrando pela Porta do Mar e passando pela praça principal, pela Catedral de S. Tryphon, pela Igreja de S. Lucas, pelo palácio Pima e pelo Museu Marítimo;
  • Ver os luxuosos barcos atracados no porto;
  • Subir ao topo das muralhas, para uma vista deslumbrante da Baía de Kotor;
  • Passear pelo paredão à beira-mar;
  • Estender a toalha na pedra e nadar nas águas límpidas do Adriático;
  • Fazer a estrada entre Kotor e o Mausoléu de Njegos, que se encontra no cume da montanha Lovćen. Trata-se de uma estrada sinuosa, com dezenas de cotovelos e sempre a subir, donde se têm excelentes vistas panorâmicas sobre Kotor e a sua baía, os fiordes e o mar Adriático.

Subida às muralhas de Kotor

A caminhada é exigente, mas aqui ficam alguns conselhos de amigo para a tornar uma pouco menos penosa:

  • Usar calçado de caminhada ou sapatilhas. Jamais: havaianas e saltos altos;
  • Levar água e alguma comida energética;
  • Ir fazendo pausas e apreciando a paisagem;
  • Evitar as horas de maior calor.

Onde gostámos de comer

Restaurante Che Nova?, já fora das muralhas, com uma esplanada junto ao mar e uma vista fantástica para os fiordes.

Onde dormimos

Apartments Bajkovic, um alojamento básico a 15 minutos a pé da cidade muralhada, com facilidade de estacionamento. A caminhada até lá, ao longo do passeio marítimo, é muito bonita e plana.

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3 Comentários

  1. Excelente texto!! Lindas fotos!!

  2. Kotor é simplesmente maravilhoso, daqueles sitios que apetece ficar vários dias. As fotos estão perfeitas retratam toda a beleza da cidade. Parabens

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