O trecho do Nilo entre Assuão e Luxor tem a maior concentração de monumentos bem preservados do Egito. Porque os queríamos visitar e sobretudo porque queríamos fazer um cruzeiro pelo rio mais longo do mundo, fomos de Assuão para Luxor de “dahabiya”, um barco com uma dezena de passageiros, que nos fez recuar ao séc. XIX, quando estes grandes e luxuosos barcos à vela eram o único meio de transporte de quem visitava o Egito.
Navegámos ao longo do rio mais extenso do mundo, contemplando as suas margens férteis cheias de palmeiras e campos trabalhados.
Observámos as casas, quase todas com um aspeto inacabado – os tijolos à mostra e o andar superior por concluir – os meus olhos sempre à procura de uma mancha de cor no meio delas, cor-de-rosa choque ou qualquer outro tom intenso.
Surpreendemo-nos com o facto de o deserto ficar logo atrás dessas faixas verdejantes e das casas.
Parámos em monumentos extraordinários como o Templo de Horus em Edfu (preservado debaixo de dunas durante cerca de 2 mil anos) e o Templo de Horus e Sobek, o “deus-crocodilo”, que nos fez refletir sobre o bem e o mal, não como opostos, mas como duas partes da existência.
Aprendemos tanto com o nosso guia sobre o Antigo Egito, assim como sobre os deuses, os faraós e o significado das pinturas, baixos relevos e esculturas que víamos – e que nos foram tão úteis ao longo do resto da viagem.
Emocionámo-nos com a luz da manhã.
Rimo-nos das vacas de orelhas espetadas para os lados, às quais colocavam um cobertor sobre o dorso durante a noite.
Cruzámo-nos com pessoas em pequenos barcos de remo ou à vela e cruzaram-se connosco inúmeros pássaros.
Sentámo-nos na pequena varanda que existia no nosso quarto, quase conseguindo tocar com a mão no rio e sentindo-nos tão serenos a ouvir o som suave do barco a cortar a água.
Deliciámo-nos com a melhor comida que provámos no Egito e jantámos uma vez nas margens do rio Nilo à luz das velas e fogueiras.
Conversámos e passámos os serões com os nove passageiros que viajaram connosco, entre os quais um simpático casal de brasileiros; uma senhora alemã de meia-idade com gargalhadas divertidíssimas e uma menina holandesa e a sua mãe, uma fotógrafa que desejava reviver a viagem da sua conterrânea Alexandrine Tinne, uma exploradora do séc. XIX que quis descobrir a nascente do Nilo a bordo de uma “dahabiya”, acompanhada pela mãe.
Por fim, já quase no final da viagem, demos um inesperado passeio a pé pelas ruas de Esna, alguns de nós e o guia, uma das experiências mais memoráveis que vivemos no Egito, não só pela magnífica luz do entardecer, mas também porque sentimos que o país autêntico estava ali, onde não andam turistas.
Hoje em dia, ao contrário do que pensávamos, os “dahabiyas” já não navegam à vela. São tristemente puxados por arrastões porque, se dependessem do vento, a viagem demoraria muito mais do que 3 ou 4 dias. Ainda assim, o prazer de viajar lentamente num mundo acelerado foi, para mim, extraordinário.
Dicas:
- Viajámos através da empresa Nile Dahabiya Boats. Fizemos a reserva online e um primeiro pagamento ainda em Portugal, sem qualquer problema;
- O preço incluía o transporte para o barco em Assuão e para o hotel em Luxor; visitas guiadas por um egiptólogo, além de todas as refeições e entradas nos monumentos visitados;
- Além de “dahabiyas”, há grandes cruzeiros a fazer a travessia entre Assuão e Luxor (ou vice-versa), alguns dos quais com preços muito mais acessíveis;
- É possível fazer o cruzeiro de Assuão para Luxor (3 noites) ou de Luxor para Assuão (4 noites);
- Nem os “dahabiyas” nem os grandes cruzeiros têm partidas diárias. Convém, por isso, ver os dias em que partem e planear a viagem em conformidade. Por exemplo, os barcos do Nile Dahabiya Boats partem às segundas, quartas e sextas-feiras de Assuão.
Se gostaram deste artigo, podem deixar um comentário ou seguir o Facebook e o Instagram do Viagens à Solta. A vocês não custa nada e a nós motivar-nos-á a partilhar mais experiências de viagem.
Ótimo artigo!!! Parabéns!!!
Obrigada pela partilha!
O Egipto, traz me memórias de um outro tempo…