Pouca terra, pouca terra. Lembras-te de sorrir em criança quando ouvias esta expressão? A criança que eras tornou-se uma pessoa adulta que ganhou medos, desconfianças e cansaço na alma. É preciso sacudir-lhe a rotina, o marasmo, a desilusão. Vamos metê-la dentro do Vouguinha: o comboio histórico do Vouga, composto por uma locomotiva a diesel e três carruagens de madeira dos primeiros anos do século XX.
A pessoa adulta que és olhará para este comboio com interesse, por ser tão diferente dos comboios modernos. Vai querer pegar no telemóvel para tentar captar o que vê. Não a deixes, para que veja diretamente com os olhos e os demore nos pormenores: nas carruagens verde e azul escuro, pintadas de verde clarinho por dentro; nos típicos varandins de ferro; nas cortinas de pano em todas as janelas; nos bancos de madeira – que duros que eram antigamente.

É da bonita estação de Aveiro que parte o Vouguinha; pouca terra, pouca terra até Macinhata do Vouga. A paisagem do lado de fora da janela não é especialmente bonita. Há muitas casas espalhadas pela paisagem, casas que não falam umas com as outras nem te dizem nada.
Redescobres, porém, o prazer de meter a cabeça fora da janela. Sentes o vento sobre o rosto e a velocidade a soprar-te os cabelos. Recolhes a cabeça quando sentes perigo e voltas a metê-la de fora, outra e outra vez. Sorris como quando eras criança. E continuas a sorrir quando vais espreitar o varandim entre as carruagens e o que existe no fim do comboio, onde sentes uma sensação de liberdade que não consegues explicar.

Entretanto, os cantares que ouvias ao longe aproximam-se da tua carruagem. O teu eu adulto torce o nariz. Imaginas pessoas contrariadas, com ar de enfado e obrigação, a cantar músicas tradicionais para os passageiros do comboio. Todavia, quem chega ao corredor da tua carruagem é um grupo de jovens bonitos e bem vestidos. Tocam instrumentos tradicionais e cantam a sorrir. Queres pegar novamente no telemóvel para guardar esse momento, para não o perder, mas qualquer foto que tires ou vídeo que graves será menos bom do que o que estás a viver no presente. Por isso, tenta-o viver apenas – como as crianças.


Não é fácil voltar à infância e provavelmente só o conseguirás de verdade quando te oferecerem um Pastel de Águeda a meio da viagem. Nesse momento, sentirás alegria e logo a seguir desilusão genuínas, por ser tão pequenino, só te faltando chorar.
Entretanto, o comboio parou em Macinhata do Vouga onde “vamos apanhar um comboio com destino ao passado”. Não te vamos contar o que se irá passar, para não estragar a surpresa. Dir-te-emos apenas que é um dos pontos altos do passeio. Se quiseres, podes tentar adivinhar o que é através das fotos que tirámos quando estivemos lá.


Antes de regressar a Aveiro, o Vouguinha ainda pára em Águeda, para uma visita ao centro histórico, incluindo o famoso “The Umbrella Sky”, uma instalação composta por milhares de chapéus-de-chuva coloridos nas ruas da cidade.
Muitas vezes crias expetativas grandiosas em relação às viagens. Este passeio de comboio não é grandioso. É uma viagem simples, capaz de fazer as crianças felizes e de devolver prazeres esquecidos aos adultos, sacudindo-lhes a rotina da alma.





Guia prático do Vouguinha
O trajeto da Linha do Vouga entrou ao serviço em 1908 e marcou o início do século XX na região, quer do ponto de vista social quer económico.
Recentemente, a CP – Comboios de Portugal pôs o Vouguinha (como também é carinhosamente chamado o Comboio Histórico do Vouga) novamente a circular na única linha de via estreita que sobra em Portugal.
A viagem realiza-se anualmente entre os meses de junho e outubro.
Horários e preços do Vouguinha
Saiba mais sobre o programa, preços, datas e horários do Vouguinha no site oficial: www.cp.pt/passageiros/pt/como-viajar/em-lazer/cultura-natureza/comboio-historico-vouga
Dica
Antes de embarcares no Vouguinha, não te esqueças de ver os magníficos azulejos da estação de Aveiro.
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Viagens à Solta,
Adorei as fotografias (como sempre) e a vossa descrição de pequeno passeio pelo Comboio Histórico do Vouga. É um belo prefácio para a minha futura viagem pelo Comboio Histórico do Douro.
Boas Viagens. Vejo-vos em Óbidos Fólio 2019 (Parabéns e Boa Sorte!).