No dia 26 de Dezembro, precisados de fugir da rotina diária, fomos à descoberta das maiores minas de ouro a céu aberto do Império Romano, merecidamente declaradas Património da Humanidade devido à sua beleza e interesse cultural único.
As minas situam-se aqui ao lado, na província espanhola de Leão. Foram cerca de duas horas de carro a partir de Chaves, por estradas ladeadas de montanhas, muitas vezes escondidas pelo nevoeiro, até chegarmos ao Miradouro de Orellán, de onde se tem a melhor vista sobre o local.

Miradouro de Orellán
As indicações para o miradouro estão bem assinaladas e o acesso de carro é fácil, por uma estrada asfaltada. Todavia, à medida que nos aproximámos do destino, a neblina intensificou-se.

Se, por um lado, viajar no inverno tem destes riscos, por outro oferece recompensas inesperadas. É que, após uma curta subida a pé desde o parque de estacionamento, aguardava-nos uma vista fabulosa sobre a paisagem singular de “Las Médulas”, ainda mais bonita nesse dia por causa das nuvens presas nas montanhas mais longínquas.

É deste miradouro que melhor nos apercebemos da grandiosidade da obra dos romanos e do impacto que causaram na natureza. Na verdade, os fotogénicos pináculos alaranjados que se vêem no meio dos bosques não são naturais. São, antes, o que restou das montanhas após 200 anos de exploração mineira, mais propriamente desde finais do séc. I a.C. até finais do séc. II d.C.

Mas como é que as montanhas ficaram assim?
À semelhança das outras minas em que se perfura a terra para dela se extraírem metais preciosos, em Las Médulas também se cavaram túneis e galerias dentro das montanhas, mas para as encher progressivamente de água.
Graças à construção de uma extensa rede de canais que ainda hoje existe, a água era conduzida das zonas mais elevadas e acumulada dentro das montanhas de argila. A sua força acabava por rebentá-las, permitindo assim aceder ao ouro que existia no seu interior, técnica a que os romanos chamaram Ruina Montium (colapso do monte).
Na fase seguinte, utilizava-se mais água para lavar os amontoados desfeitos e canalizar a lama por umas calhas de madeira onde se filtrava o ouro. A acumulação dos excedentes daí resultantes está na origem de Carucedo e Sumido, dois lagos artificiais que ainda existem nas proximidades, aos quais se pode ir a pé.
Se atualmente não resta nenhuma Ruina Montium completa, algumas galerias e túneis das minas são ainda visíveis, sobretudo descendo à aldeia de Las Médulas e seguindo a pé um trilho pelo meio dos cumes alienígenas.


Senda de Las Valiñas
- Tipo: circular
- Extensão: 4 km
- Duração: 01h30
- Dificuldade: baixa
O trilho de Las Valiñas é um dos cinco percursos pedestres disponíveis para se ver de perto Las Médulas e provavelmente aquele que melhor lhe permitirá conhecer as maiores minas do mundo romano, já que percorre a principal zona de exploração mineira.
A rota parte da pacata aldeia de Las Médulas e, por ser uma pequena povoação, pensámos que não seria difícil descobrir o seu início. Mas onde é que é mesmo? Se virem um pastor de galinhas com um pau na mão, não temam. Provavelmente dir-vos-á que é um homem mau e que vos vai bater com o pau. Gritem-lhe bem alto que procuram o início do trilho. Ele saberá indicar-vos o caminho apesar de ouvir muito mal.
As principais atrações deste itinerário são La Cuevona e La Cueva Encantada, duas grutas misteriosas com cerca de 30 metros de altura, que lhe permitirão observar de perto o resultado das minas e compreender a sua verdadeira dimensão.


De resto, todo o percurso é um prazer para os olhos e para o olfato. Para além dos grandiosos picos de terra alaranjada, passeará pelo meio de bosques de castanheiros seculares, com enormes troncos de formas estranhas e retorcidas. Se não fizer a viagem no inverno como nós, terá a vantagem de ver as árvores introduzidas pelos romanos cheias de folhas, realçando ainda mais o dourado das montanhas.



Onde comer e dormir
Caso opte por ficar em Las Médulas, há restaurantes com pratos típicos da região a preços acessíveis, assim como a possibilidade de alojamento na aldeia.


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Olá Sofia: mais uma grande partilha e um excelente trabalho fotográfico. Já está anotado para uma próxima viagem por estas paragens.
tudo muito lindo
Olá. já está marcada esta viagem. Obrigada pela partilha. Continuo a seguir os vossos destinos e dicas fantásticas.
Obrigada e boa viagem!
Muito interessante. Acrescentou algo mais à informação que possuía. Tenho que visitar assim como o sitio Três Minas.
Sofia, que fotografias maravilhosas. Em maio, farei uma parte do caminho de Santiago, um sonho antigo que só agora vou realizar.
Sou historiadora e escritora em São Paulo. Tenho 68 anos, cinco filhos, 8 netos, casada com Roberto há 50 anos este ano. Meu nome é Maria Antonieta, meu apelido é Neta (nêta), assino meus livros como Neta Mello. Tenho um blog desativado, mas ainda dá para ler, se quiser. Adoro viajar. Uma de minhas filhas mora em Bologna, casada com italiano. Temos um neto bolognese de 5 anos. Sempre com saudades e vontade de ir para lá o ano inteiro.
Vou ler com calma suas dicas de viagens, gostei do que li e vi. Parabéns
enviei antes de terminar, um beijo
Sofia, que maravilhosas fotografias e texto, sobre um espaço que já visitei, e que em breve repetirei. As tuas dicas vão ser importantes, para ver as Médulas com outro olhar.
Gosto muito da forma e conteúdo das vossas viagens.
Abração.