Quem quiser visitar as povoações mais bonitas de Espanha não pode perder La Alberca e Mogarraz, situadas a meio caminho entre a fronteira portuguesa de Vilar Formoso e Salamanca. Ficam ambas na Sierra de Francia, rodeadas por montanhas suaves, bosques cheios de líquenes e ar puro.

La Alberca

La Alberca é a mais conhecida das duas aldeias e, por isso, a mais turística. O principal prazer de a visitar consiste em passear aleatoriamente pelas suas ruas labirínticas, reparando na arquitetura peculiar das casas, às riscas castanhas e brancas. A Praça Maior, rodeada por casas assentes em colunas, também é muito bonita e, quando chegarem à igreja, hão-de reparar numa estátua de um porco em pedra. Curiosos, quisemos saber a razão da sua existência e explicaram-nos, então, que, no dia de Santo António, o município compra um leitão e solta-o na aldeia. Até Fevereiro, os moradores dão-lhe de comer e, nesse mês, é rifado entre eles. Infelizmente, já não o vimos.

Mogarraz

Quando visitámos La Alberca em 2012, ainda desconhecíamos a existência de Mogarraz. Foi só na última passagem de ano que a visitámos, depois de escontrarmos algumas fotos da aldeia. Tal como em La Alberca, as ruas estreitas de Mogarraz são todas de pedra e as casas têm a mesma arquitetura tradicional, ou seja, nas paredes vêem-se traves verticais de madeira e o espaço entre elas ou está pintado de branco ou preenchido com pequenas pedras.

O que torna Mogarraz diferente de La Alberca e de todas as aldeias que conhecemos são os quadros, 388 para ser exatos, pendurados nas fachadas das casas e da igreja. Nos quadros estão pintados os rostos dos antigos moradores da povoação. Foi um pintor local, Florencio Maíllo, que teve a ideia de os retratar, baseando-se para tal nas fotografias que os habitantes de Mogarraz tiveram de fazer, em 1967, para emitir os seus bilhetes de identidade.

No dia 31 de Dezembro, a que os espanhóis chamam “noite velha”, fecha tudo, mesmo os cafés e os restaurantes. As ruas ficam desertas e, só depois da meia-noite, é que as pessoas começam a sair de casa, lançando bombinhas e foguetes artesanais. Nós saímos um pouco antes e tivemos a aldeia só para nós, passeando calmamente e dançando, finalmente, na Praça Maior, debaixo das estrelas, sob o olhar dos anteriores habitantes.

No dia seguinte, levantámo-nos cedo e a aldeia continuava praticamente deserta. Foi, então, que o vimos: um enorme porco a caminhar descontraídamente na rua principal. Passeámos com ele e demos-lhe o que tínhamos – baklavas – que abocanhou e desfez em mil cajus verdes espalhados pelas pedras da calçada. Afinal existia mesmo.

Guia prático para visitar La Alberca e Mogarraz

Se, como nós, gosta de sítios tranquilos, aconselhámo-lo a ficar alojado em Mogarraz. Além disso, tem fama de se comer bem.

Distâncias

  • Vilar Formoso – La Alberca: 75 km (1 hora)
  • La Alberca – Mogarraz: 8,3 km (12 minutos)
  • La Alberca – Salamanca: 78 km (1 hora)

Onde dormir

Hotel SPA Villa de Mogarraz

Onde comer

Restaurante Mirasierra, em Mogarraz

O que provar

  • Presunto Guijuelo (com denominação de origem protegida)
  • Setas (cogumelos selvagens)

Percursos pedestres

Cada uma das aldeias se visita em menos de duas horas. Há, no entanto, vários trilhos assinalados nas proximidades, em particular na Sierra de Francia, para quem quiser continuar a caminhar.

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Boas viagens à solta!

13 Comentários

  1. Para além do porco bem andante antes de ser rifado que desconhecia, La Alberca tem outro costume digno de ser contado, para facilitar na língua local:

    “Según tradiciones orales en el siglo XVI se arraiga el culto de las ánimas. En La Alberca se sigue esta corriente. Con su fe comienzan a valorar y reflexionar sobre el más allá, invitando a rezar diariamente a los fieles cristianos para que todos los hombres alcancen la resurrección y la vida eterna. Todos los días al oscurecer, recorre el pueblo la moza de ánimas, que toca la esquila en todas las esquinas a la vez que entona una plegaria por los difuntos y almas del Purgatorio.”

    E assim continua ela (la moza de ánimas), todos os dias, rapidamente sem saltar equinas tocando a sineta (la esquila).

    A 11 km de Mogarraz, San Martín del Castañar também merecia estar na lista das povoações mais bonitas de Espanha. É talvez por isso menos turística mas igualmente ótima para passear pelas ruas ou por trilhos sem carros e nem romanos. Para além de uma memorável praça de touros que se diz ter sido a segunda de Espanha (a primeira terá sido em Miranda del Castañar, ali perto).

    P.S. Está muito castiça a foto da dança! 🙂

    • Esta é uma zona relativamente perto de Portugal (saindo por Vilar Formoso) e dá para conjugar com Salamanca. Já fiz e repeti esta experiência. Concordo com o Daniel na sugestão de incluir San Martín del Castañar. gostei de visitar Mogarraz pela particularidade das fotos nas paredes, mas gostei mais de Miranda del Castañar (colocaria em segundo, atrás de La Alberca).
      Há ainda uma outra aldeia perto de Béjar, Candelario, onde as casas têm uma porta normal e uma segunda porta do lado de fora, só com meia altura. Esta segunda porta proteje a entrada em relação à neve e aos animais (bois e porcos, por exemplo) que em certas alturas possam andar na rua. Permitem também abrir a porta principal e facilitar, de modo mais ou menos seguro, a passagem de ar para secar os enchidos. Candelario merece também uma visita. Béjar é uma cidade de pequena/média dimensão que não me entusiasmou particularmente.
      Já comentei anteriormente, mas aproveito agora a oportunidade para dar os parabéns aos autores da página pelas fotos que apresentam. Parece que têm sempre a luz ideal. Quando se tem o tempo contado, esse pormenor é bem mais complicado do que um bom motivo ou um bom enquadramento. Custa a acreditar que tenham permanecido tão pouco tempo nos locais.

  2. Regina Marcia Gomes Crespo

    Interessante observar as fotos estampadas nas casas. Qual o significado?
    A foto de vocês dançando parece cena de filme.
    Amei…

  3. Boa tarde,

    Tive o prazer de visitar com a minha esposa La Alberca este fim de semana, gostámos imenso. Visitámos também Miranda Del Castañar. Aconselho a visita.

  4. Para quem se sente viajante, é o meu caso, tudo o que se possa encontrar é uma bênção. É claro que esse material prévio sempre nos tira a pureza do olhar original, mas o que seria de nós, com as fronteiras que temos, praticamente ilimitadas, sem os olhares prévios de viajantes informados?
    Vou partir para essas próximas latitudes. Depois, direi alguma coisa.
    Muito obrigado pela partilha.

  5. Olá Sofia e Paulo,
    Muitos parabéns pelos textos e pelas fotografias! São fantásticos!
    Sempre que viajamos, gostamos de ler as vossas sugestões e, mais uma vez, não desiludiram. Aproveitamos a ponte de 1 de Dezembro para conhecer La Alverca e Mogarraz. Adoramos!
    Obrigada pela partilha.

  6. Maria do Rosário Carriço Meira

    Desconhecia a existência destas aldeias, mas desculpem nós em Portugal temos aldeias muitíssimo mais bonitas e interessante. Quanto *as fotos dos antigos habitantes penso que é interessante do ponto de vista do historial daqueles sítios e da História de Espanha, mas por outro lado é um pouco tétrico…

  7. Olá a todos. Acabei de visitar La Alberca e de jacto é lindíssima. Tem aspetos medievais o que lhe dá um aspeto bastante interessante e nos obrigada à exploração. É de facto uma aldeia bem cuidada e bastante aproveitada nos seus espaços. A hotelaria/restauração muito bem conseguida apresentando ás gentes contemporâneas um misto de medieval com o moderno para assim poder acompanhar o turismo. Muito bom. Quanto ao comentário da Dona Maria do Rosário Carriço Meira, relativamente às aldeias bonitas de Portugal, sim é verdade que temos aldeias bonitas em Portugal, muitas delas dadas ao abandono, desleixo na sua conservação arquitectónica, podemos até referir aqui Piódão, no entanto nada comparável com este tipo de aldeias, até porque a aldeia de La Alberca tem aproximadamente 1100 habitantes e trata-se de uma aldeia no interior raiano de Espanha, pelo que consegui contar, apresenta pelo menos 22 locais para ficar, entre hotéis, alojamento local e camping, consegue identificar alguma aldeia aqui em Portugal, com tais condições, valores culturais, identidade, arquitetura, entre outros? Se conhecer alguma aldeia com tanto para dar, diga-me, por favor. Aqui em Portugal, aldeias geograficamente idênticas, não têm nem 500 habitantes, estão muitos edifícios alterados quanto às suas origens, edifícios devolutos, ou seja, a culpa das políticas e políticos locais e dos próprios governantes que deixaram prostituir as aldeias do interior, permitiu a destruição da sua identidade, da sua riqueza arquitectónica e cultural…o turismo de Portugal tem, ao longo de muitos anos culpa, pois só teve olhos para as grandes capitais e Algarve. Felizmente temos ainda em Portugal uma região que vai, a todo o custo, mantendo alguma cultura, mas só no verão, a região da raia do distrito da Guarda, concelho de Sabugal, talvez devido á proximidade com a raia da região de Castela e leão em Espanha, onde se encontra o motivo desta conversa. Confesso que a mim também me custa admitir que estamos a perder cultura e identidade rural nas nossas aldeias, mas a verdade é essa, está a ficar tudo ao abandono. Portugal é Portugal mas dói dizer a verdade. Cumprimentos

  8. Qual o melhor mês para visitar estas duas Vilas, para ver as janelas e varandas com as flores? Obrigado.

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