Depois de nos termos deslumbrado com o Trilho das Pontes, voltámos ao Parque Natural de Sintra-Cascais para fazer outra pequena rota: o Trilho da Peninha e Anta Adrenunes.

O percurso pedestre da Peninha e Anta Adrenunes (circular, 4.5 km) é um dos mais deslumbrantes trilhos oficiais que cruzam a serra de Sintra e deve o seu nome ao Santuário da Peninha, situado num dos seus cumes mais elevados.

É no parque de estacionamento que dá acesso a esse lugar de devoção popular que começa a nossa caminhada. Após uma curta subida, avistamos um palacete romântico (séc. XX) que se assemelha a uma fortificação. São, todavia, as vistas sobre a costa de Sintra-Cascais e a imensidão do mar que nos prendem a atenção, enquanto os nossos cabelos e roupas são virados e revirados pelo vento.

Se se quiserem rir com o vento, vale a pena aproximarem-se do palacete e subir as escadas que conduzem à Capela de Nossa Senhora da Penha (séc. XVII). Está quase sempre fechada mas, lá em cima, o vento costuma ser tão forte que é impossível não nos rirmos com os abanões que levamos. No átrio da capela, experimentem descer as escadas do lado oposto àquele por onde subiram e depois digam-me se não se desataram a rir à gargalhada.

Quem observa a serra do lado da Peninha está longe de imaginar o que se esconde na encosta oposta. Continuemos, pois, a andar…

Do Santuário, e seguindo sempre a sinalização do trilho, descemos ligeiramente em direção às ruínas de uma ermida fundada na época da formação do reino de Portugal: a Ermida de São Saturnino. Olhando ao redor, vemos uma paisagem rochosa cuja vegetação se reduz a prados e matos, devido à prolongada utilização agro-pastoril, ventos fortes e fogos sucessivos. Ganhamos, em contrapartida, uma outra perspetiva do Santuário da Peninha, agora claramente visível sobre um amontoado caótico de rochas gigantes.

Pouco depois de passarmos ao lado da ermida, deparamo-nos, então, com uma realidade completamente diferente: diferente não só da serra despida que acabámos de ver, mas também do mundo do dia-a-dia. É como se, de repente, entrássemos num cenário de histórias encantadas onde moram unicórnios, fadas, duendes e elfos. É o mundo feliz das minhas histórias de infância, uma floresta rara de encontrar nos dias de hoje, frequentemente envolta pelo nevoeiro, onde predominam cedros do Buçaco e surgem algumas espécies-relíquia da Laurissilva, o coberto vegetal original da Península Ibérica. Os troncos das árvores são abraçadas por heras e até as rochas são verdes, cobertas por musgo fresco.

Enquanto descemos a encosta pelo meio da floresta, o mais provável é não encontrar ninguém mas, da última vez que eu e o Paulo o fizemos, passámos por uma jovem sentada numa pedra a recitar mantras budistas, e eu entendo: este é o tipo de lugares que nos elevam do caos e nos unem ao universo.

Trilho da Peninha, Sintra

Já descemos a encosta e seguimos agora floresta fora, em terreno plano. A dada altura, é possível fazer um desvio para visitar o Adrenunes (exceto de janeiro a junho para não perturbar a nidificação de aves ameaçadas). Se estiverem na dúvida sobre se vale a pena conhecer este lugar, digo-vos já, sem rodeios, que sim. Primeiro, porque o trilho se torna misterioso, um carreirinho estreito de terra entre vegetação densa e túneis de urze. Segundo, porque termina junto a uns penedos grandiosos e invulgares, dispostos de tal forma que lembram um monumento megalítico de tipo anta. Terceiro, porque esses rochedos chamam pelo nosso espírito de criança, incitando-nos a subi-los. Por último, porque a vista a partir daí é belíssima, prolongando-se quer pela costa atlântica quer pela Serra de Sintra, avistando-se inclusive o Palácio da Pena e o Castelo dos Mouros.

Do Adrenunes, continuamos a caminhar pela floresta até as acácias e os eucaliptos começarem a invadir as outras espécies. Esta é a parte menos interessante do Trilho da Peninha, não só porque é a subir, mas também porque o cenário perde em beleza. Não se deixem, todavia, abater. Além de ser uma etapa curta, ajudar-vos-á a valorizar o que vem a seguir. E o que se segue é a parte mais bonita do percurso e provavelmente a zona mais bonita da serra de Sintra.

Regressamos à floresta de cedros do Buçaco, caminhando em direção às Duas Irmãs, duas rochas imponentes, já perto do local de início do percurso. À nossa volta, as heras cobrem o solo e trepam pelos troncos das árvores enquanto o nevoeiro e os raios de sol tornam tudo ainda mais bonito. Dentro de mim, tudo é deslumbramento, paz e amor à vida. Quem disse que isso não era possível em tempos de pandemia?

Guia prático

Trilho da Peninha e Anta Adrenunes (PR10 SNT Peninha)

  • Localização | Serra de Sintra
  • Tipo de percurso | Circular e sinalizado
  • Início/Fim | Parque de estacionamento da Peninha
  • Extensão | 4,5 km
  • Duração | 1h e 40 min
  • Nível de dificuldade | Moderado
  • Melhor altura para ir | Qualquer altura do ano
  • Folheto oficial e mapa

O que levar

  • Calçado e roupa adequada para caminhadas;
  • Polar e casaco impermeável (mesmo no verão);
  • Mochila pequena e confortável;
  • Água e comida energética (ex.: bananas, frutos secos ou barritas de cereais);
  • Um saquinho para colocarem o lixo;
  • Bastões de caminhada (opcionais).

Recomendações

  • Respeitem o sossego do local, evitando falar alto ou fazer barulho;
  • Não deixem lixo à vossa passagem. Transportem-no convosco e depositem-no nos locais apropriados.

Alojamento

Em Sintra, existem muitas opções de alojamento e de certeza que encontrarão uma que vos agrade. Eis as nossas recomendações:

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5 Comentários

  1. Muito obrigada pela partilha. Costumo fazer caminhadas no Algarve, onde moro e é um prazer. Adoro ir a Sintra, caminhadas ainda não comecei. Espero vir a fazê-las aí pois adoro a vegetação. Obrigada.

  2. Boa tarde!
    Obrigado por partilharem mais um excelente passeio.
    Fizeram o percurso completo? Pergunto porque encontro este percurso mas com 13,2km. O vosso tem apenas 4,5km. A extensão adequada para fazer em familia. Fizeram algum corte? Eu tento seguir os percursos com o GPS

    Obrigado e continuem a partilhar passeios. Já tenho alguns em agenda
    Antonio

  3. Já decobri :o)
    PR10 – Peninha
    Extensão: 5,9 km
    Local de Saída: Largo da Peninha
    Pontos de Passagem: Ermida da Nossa Senhora da Peninha, Ermida de São Saturnino, Adrenunes, Pedras Irmãs
    GPS: 38.769215, -9.458948
    O percurso inicia-se no terreiro de estacionamento que dá acesso à Peninha.

    Já consegui o percurso para colocar no GPS

    Obrigado
    Antonio

    • Boa! Entretanto, também atualizámos o nosso artigo (ver ficha técnica) com um link para o folheto oficial do Parque Natural Sintra-Cascais, que inclui o mapa do percurso pedestre. A sinalização no terreno é boa e não há que enganar. Boas caminhadas!

  4. Muitos parabéns pelo cuidado com a apresentação e fotografia

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