Quem nos conhece ou nos lê no “Viagens à Solta” sabe que gostamos de caminhar na natureza, mas não no meio de muitas pessoas. Não que não gostemos de pessoas mas, talvez por vivermos em Lisboa, aos fins-de-semana precisamos de algum sossego. Este artigo é, pois, para quem se identifica connosco e quer fazer tranquilamente os Passadiços do Paiva, o percurso pedestre mais famoso de Portugal.
O trilho de 8,7 km segue – quase sempre em plataformas de madeira – pela margem esquerda do Rio Paiva, no concelho de Arouca, distrito de Aveiro. Pode-se começar ou na praia fluvial de Areinho ou em Espiunca. Nós começámos em Espiunca, que é a opção menos popular, porque teoricamente mais difícil. Não nos arrependemos, porém. Primeiro, porque fomos introduzidos devagarinho aos passadiços que, ao princípio, acompanham (quase sem desníveis) o rio Paiva. Isso permitiu-nos prestar atenção não só às plataformas de madeira, que são uma obra de arte, mas principalmente ao rio e a áreas de escarpa que, graças aos passadiços, estão agora ao alcance de qualquer um, permitindo-nos contemplar uma paisagem admirável, de outra forma, inacessível.
Como começámos cedo (pelas 8h da manhã), tivemos os passadiços praticamente só para nós. Vimos, ouvimos, cheirámos e sentimos, então, o que durante a semana não temos e é, por isso, que gostamos tanto de andar na natureza. Vimos o rio Paiva, umas vezes a ultrapassar rochas, outras vezes quase parado refletindo os amieiros, freixos, salgueiros e fetos. Vimos flores de Maio e borboletas coloridas. Ouvimos os nossos passos ritmados nas tábuas de madeira, passarinhos mil e o rio que, como os nossos pensamentos, conversou connosco, ora tumultuoso ora a murmurar serenamente. Molhámos as mãos na água cristalina, quando descemos à praia de Vau, a meio do trajeto. E sentimo-nos em paz. São sensações relaxantes, melhores do que qualquer som gravado da natureza, do que qualquer incenso, do que qualquer meditação que possamos fazer em casa.
A parte difícil veio no final do percurso, quando os passadiços começaram a subir ligeiramente e depois se transformaram em escadas que tivemos de subir até ao fim. Os nossos corpos já iam quentes, porém, e não nos custou demasiado. Além disso, sabíamos que, depois daquela subida, seria sempre a descer até Areinho, onde tínhamos deixado o carro. Foi nesse ponto que começou a cruzar-se connosco um número crescente de pessoas, incluindo vários grupos: nós a terminar a caminhada, eles a iniciá-la ao final da manhã, quando começava a ficar mais calor. Por esse motivo, alguns caminhavam com bastante dificuldade e ansiedade, ainda mais porque, começando em Areinho, há muitas escadas para subir logo no início do trilho quando o corpo ainda não está pronto fisicamente.
Se, como nós, não gosta de multidões e prefere contemplar a natureza em silêncio, o melhor conselho que lhe podemos dar é começar o percurso de manhã bem cedo, se possível, mal abre o acesso aos Passadiços: assim evitará também as horas de maior calor.
Guia prático para visitar os Passadiços do Paiva
Preparativos
- É preciso comprar, com antecedência, os bilhetes para os Passadiços do Paiva no website oficial (1 euro por pessoa). Os fins-de-semana e os meses de verão são os períodos mais procurados e os bilhetes esgotam rapidamente, até porque os passadiços são frequentados por muitos grupos e excursões organizadas.Nós fizemos o percurso num domingo, em Maio, e comprámos os bilhetes com uma semana de antecedência. Aquando da compra dos bilhetes, tem de se selecionar o local de entrada: Areinho ou Espiunca. Teoricamente, o percurso é mais fácil se iniciado em Areinho, mas essa opção já estava esgotada, pelo que adquirimos o bilhete com entrada em Espiunca. Apesar disso, quando lá chegámos, os funcionários que controlavam as entradas disseram-nos que podíamos ter começado em Areinho, sem qualquer problema.
- Dado que (ainda) não existe muita oferta de alojamento nas proximidades, também é conveniente reservar quarto o mais cedo possível. Arouca e Castelo do Paiva são boas opções para pernoitar.
Itinerário
Como fomos sozinhos, a nossa logística foi a seguinte:
- Dormida em Arouca;
- De manhã, viagem de carro de Arouca para Areinho (cerca de 25 minutos);
- Em Areinho, estacionámos o carro no parque perto do trilho, de modo a tê-lo disponível quando acabássemos a caminhada. O parque de estacionamento é bastante pequeno. Por isso, quanto mais cedo chegar, maior a probabilidade de encontrar um lugar. Caso contrário, terá de estacionar noutro parque mais longínquo, no cimo de um monte, o que o vai obrigar a andar mais;
- Viagem de táxi de Areinho para Espiunca (cerca de 20 minutos). Preço: aproximadamente 15€ (marcados no taxímetro). Reservámos o táxi na véspera para as 8h00 e, às 7h50, o Sr. Miguel Brandão já estava à nossa espera para nos levar até Espiunca. Contacto: 919 472 390.
- Início do percurso em Espiunca.
Caracterização do percurso
- Partida: Areinho ou Espiunca
- Distância a percorrer: 8,7 km (linear)
- Duração média: 2h30
- Nível de dificuldade: alto
- Desníveis: acentuados
- Época aconselhada: os passadiços estão abertos todo o ano mas, na nossa opinião, as melhores alturas para os percorrer são a primavera e o outono, quando as temperaturas são amenas. No verão, convém ter algumas precauções com as temperaturas elevadas que se podem fazer sentir.
- Website oficial: http://passadicosdopaiva.pt
Horários
- Novembro a Março: 09h00 – 17h00
- Abril a Agosto: 07h30 – 20h00
- Setembro a Outubro: 09h00 – 18h30
Recomendações
Uma vez que nos cruzámos com várias pessoas mal preparadas, deixamos-lhe ficar algumas recomendações:
- Saiba ao que vai: os passadiços têm quase 9 km e incluem uma parte com muitas escadas que terá de subir e descer na totalidade, independentemente do ponto onde começa o percurso;
- Se fizer o percurso no sentido Areinho – Espiunca, não desanime com a subida íngreme logo no início. A seguir à escadaria, tudo se torna simples;
- Vá ao seu próprio ritmo. Sobretudo se for integrado num grupo e tiver pouca preparação física, não tente andar à velocidade dos outros e vá fazendo algumas pausas;
- Se vir que não consegue fazer o percurso na totalidade, pode chamar um táxi para o ir buscar à praia de Vau que fica sensivelmente a meio do percurso; também há alguns telefones SOS ao longo do trajeto onde poderá pedir ajuda;
- Por fim, siga à risca as regras de conduta e nunca é demais lembrar: não vandalize os passadiços, não danifique a vegetação e não deixe ficar lixo.
Alternativas para quem não tem boa condição física
Quem quiser conhecer os passadiços, evitando a parte mais difícil do trajeto, ou seja, a escadaria, poderá optar pelas seguintes alternativas, que praticamente não têm desníveis:
- A opção mais fácil é começar o percurso em Espiunca e andar apenas até à Praia de Vau que fica a meio do percurso. Aí poderá chamar um táxi ou fazer o caminho de regresso até Espiunca;
- Outra alternativa é fazer o caminho de Espiunca até à escadaria (ida e volta).
O que levar
- Roupa desportiva e calçado apropriado (calçado de caminhada ou sapatilhas). Jamais havaianas, chinelos, sapatos de salto alto;
- Pelo menos 1 litro de água;
- Alguma comida energética, como fruta, barritas de cereais ou frutos secos. O ideal é levar tudo numa pequena mochila, evitando ir muito carregado. Se precisar de comprar água ou comida, há cafés no início e no final do percurso, bem como a meio, na praia de Vau;
- Protetor solar e chapéu, especialmente nos dias mais quentes.
Onde (gostámos de) comer
Tasquinha da Quinta, em Arouca. Foi onde provámos a carne Arouquesa, acompanhada por batatas assadas no forno e uns excelentes grelos. Nas outras mesas, a comida também tinha bom aspeto, como o polvo, o bacalhau assado, o arroz de fumeiro ou de miúdos.
Onde (gostámos de) dormir
Casa do Centro, em Arouca. Trata-se de uma casa particular, mesmo no centro de Arouca, impecavelmente limpa. Apesar dos quartos terem casa de banho partilhada, há uma cozinha e uma sala-de-estar à disposição dos hóspedes.
Pequeno-almoço: não está incluído mas, umas casas mais abaixo, a Confeitaria Raínha 1 está aberta a partir das 6h30 da manhã.
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O que (gostámos de) ver nas proximidades
Uma vez que viajámos de Lisboa para Arouca no sábado de manhã, ficámos com a tarde livre para explorar alguns locais, nomeadamente:
Arouca
Centro histórico e mosteiro.
Arouca Geopark
- Frecha da Misarela, a cascata mais alta de Portugal continental;
- Pedras parideiras, um fenómeno raro no mundo, e o respetivo centro de interpretação;
- Pedras Boroas do Junqueiro, umas pedras que lembram a superfície de um broa de milho;
- Radar metereológico de Arouca, uma torre com um piso panorâmico donde se podem avistar o planalto rochoso da Freita logo ali e, mais longe, as montanhas de Montemuro, Serra da Estrela e Caramulo, bem como a Ria de Aveiro, a Figueira da Foz e o Grande Porto.
Caminhada realizada no dia 21 de Maio de 2017 (mochila: Kraxe Wien)
Curiosidade: em 2016, os Passadiços do Paiva foram considerados o projecto mais inovador da Europa, nos “World Travel Awards”, conhecidos como os Óscares do Turismo.
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Belíssimo lugar, obrigada por compartilhar!
Obrigado pela partilha da aventura !
Que maravilha de depoimento e as fotos são lindas, parabens!!!
Obrigada!
Boa noite! De 8 a 15 de setembro estaremos no Porto e queremos fazer um tour pelo Paiva. Somos 3 pessoas (2 adultos e 1 menino de 16 anos). Nenhum de nós fala inglês, falamos italiano. Podemos reservar nossos ingressos através do seu site? Ficarei grato se você me der mais informações sobre este passeio.
Também queríamos ir à Serra da Freita. OBRIGADO
Olá Lara,
Os bilhetes compram-se no site oficial dos Passadiços do Paiva: https://reservas.passadicosdopaiva.pt/pt/bilhetes. Nesse site, também poderá encontrar mais informações sobre o percurso.
Beijinhos e bom passeio!