Em 2017, Rio de Onor foi a aldeia vencedora das 7 Maravilhas de Portugal na categoria de Aldeias em Áreas Protegidas, neste caso o Parque Natural de Montesinho. Ora, se fores só ver Rio de Onor, perderás a sua essência. O meu conselho é, pois, que vás sem pressa e que converses com os moradores que encontrares pelo caminho.
Se fores só ver Rio de Onor, observarás uma localidade tipicamente transmontana, no meio da qual corre um rio chamado Onor. As casas são de xisto escurecido, têm varandas de madeira e dois andares: no de cima, moravam as famílias e, no de baixo, o gado. Verás que há poucas habitações a destoar das tradicionais, mas também repararás que algumas casas se encontram desabitadas e em ruínas. Verás ainda ruas estreitas de pedra, uma antiga igreja de xisto, uma ponte romana e o que provavelmente te surpreenderá mais é o facto de, uns passos adiante, já estares em Espanha, numa aldeia chamada Rihonor de Castilla.
Ora, se conversares com os moradores, não verás apenas a aldeia. Poderás escutar o seu testemunho de vida numa aldeia comunitária, onde todos os habitantes partilhavam terrenos agrícolas, rebanhos e fornos, ajudando-se uns aos outros e honrando a palavra dada. Era isso que até há pouco tempo tornava Rio de Onor uma aldeia única, bem como o facto de se reger por um governo e leis próprias.
Foi isso que nos explicou o Sr. Mariano Augusto à sombra de uma árvore. Contou-nos que, até aos anos 60 do século passado, não chegava qualquer estrada à aldeia, apenas um caminho de terra que subia e descia serras, totalizando 20 e tal quilómetros a pé até Bragança. “De Bragança a Lisboa são 9 horas de distância” – lembras-te da música? A essas 9 horas soma agora 20 quilómetros a pé e poderás imaginar como a aldeia de Rio de Onor ficava longe e os seus habitantes isolados.
As famílias trabalhavam nos campos, mais propriamente na “faceira”, um terreno composto por dezenas de quadrados equitativos de terra. Para decidir a ordem segundo a qual os retalhos deviam ser lavrados, com vista a não estragar os dos vizinhos, tocava-se o sino e convocava-se uma reunião, do mesmo modo que as famílias se juntavam para decidir os castigos a aplicar a quem quebrasse as regras estabelecidas. Normalmente eram multas pagas em vinho: quanto maior o delito, maior a quantidade a dar aos outros. “Ficava tudo registado na Vara da Justiça” – continuou a explicar o Sr. Mariano, que fez questão de nos levar à adega de sua casa, para que víssemos uma dessas varas, oferecendo-nos um copo de vinho, pois claro.
Enquanto bebíamos, contou-nos que antigamente os homens costumavam beber todos pela mesma caneca. Um deles, mais cioso, bebia sempre pelo bico até que um dia lhe pregaram uma partida: esfregaram essa parte com malaguetas e foi vê-lo a ficar vermelho e aflito, para gargalhada de todos.
Ficámos também a saber que, em Rio de Onor, havia um rebanho comunitário e que as famílias tinham de se revezar para o acompanhar aos pastos. Hoje já não podemos ver as ovelhas a regressar à aldeia, ao final do dia, encaminhando-se praticamente sozinhas para as casas dos respetivos donos.
Quanto à convivência com os vizinhos espanhóis, o Sr. Mariano parece apenas lamentar que, entre os anos 70 e 90, as autoridades tivessem posto uma corrente na fronteira a separar as duas aldeias, porque “nós e os espanhóis somos todos família”.
Hoje em dia, pelas suas contas, há 53 portugueses e 10 espanhóis a viver nas duas aldeias. Entre os primeiros, o apelido mais frequente é “Preto” e, entre os segundos, “Prieto”. São quase todos idosos.
Os mais jovens partiram à procura de uma vida melhor enquanto alguns visitantes chegam à procura do que perderam.
Guia prático para visitar Rio de Onor
Localização
A aldeia de Rio de Onor fica a 26 km de Bragança, no Alto Nordeste transmontano, junto à fronteira com Espanha.
Faz parte da Terra Fria Transmontana, a zona climaticamente mais fria da Península Ibérica, e do Parque Natural de Montesinho, uma área de 75 mil hecatres caracterizada por uma simbiose entre o Homem e a natureza. Ao longo do parque, a paisagem muda muito, alternando entre áreas de pinheiro bravo, lameiros e hortas.
Além de ser uma das zonas com a maior biodiversidade de Portugal, é aí que vive a maior parte dos mamíferos silvestres da Europa, sendo esse o melhor indicador do bom estado do ecossistema. Na estrada entre Bragança e Rio de Onor, por exemplo, avistámos três veados e uma raposa, mas também há lobos e javalis.
Onde comer perto de Rio de Onor
Entre Bragança e Rio de Onor, também há um restaurante que recomendamos. Chama-se A Lombada e as suas especialidades são o cordeiro e as enormes Posta à Lombada e Costeleta de Vitela, todos confecionados na brasa. Por encomenda, também se pode provar o Galo no Pote, um prato tradicional quase em extinção nos restaurantes da região.
Este passeio foi realizado, em Maio de 2018, a convite da Associação Comercial, Industrial e Serviços de Bragança. Agradecemos também ao António Sá por nos ter acompanhado em Rio de Onor, proporcionando-nos uma experiência enriquecedora e levando-nos a refletir sobre o interior de Portugal.
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Boas viagens à solta!
Viagens à solta,
Como sempre, um excelente artigo que alia o gosto pela natureza com o património bem português: as nossas aldeias. Para um citadino como eu que gosta de percorrer as aldeias do nosso país, a realidade é sempre genuina, mágica e sincera. Para quem vive nas mesmas, pode ser dura, e cruel a simplicidade da vida numa aldeia. Dai, a emigração para o exterior. Todavia, há algo comum a todas: a felicidade das gentes e orgulho sua terra.
Votos de boa viagens (se for o caso).
Muito bom obrigado pela vossa partilha. Fiquei com vontade de visitar.
Dormir em Rio de Onor?
Casa da Portela, claro! Uma maravilha de turismo rural.
Visitem-nos 🙂
http://www.casaportela.com
Adorei este artigo e foi fantastico conhecer voces en esta viajem. As fotos sao muito giras. Espero voces na Galiza.
Artigo fantástico, até dá vontade de viajar até aí, aliás em todos os vossos artigos dá! Grande trabalho! 🙂
Só faltou referir a parte musical de Rio d’onor, O Ti Mariano era o caixeiro do mítico gaiteiro de Rio de Onor “João Prieto Ximeno”. Eles faziam a festa.
Não sabíamos disso, Patrik. Será que nos pode contar um pouco sobre essas festas, sobre o “mítico gaiteiro” e o papel do caixeiro? Fiquei curiosa e gostaria de saber mais.
PARABEMS…Adorei, talvez que no final do verao , seja este o destino a visitar….sou apaixonado pela fotografia,mas sou fotografo depois que me
aposentei….As vossas fotos sao excelentes..obrigado
Caro Manuel,
Muito obrigada pelo seu comentário. Acho que vai gostar muito de conhecer e de fotografar Rio de Onor, bem como o Parque Natural de Montesinho.
Desejamos-lhe um bom passeio!
Ameii.
Um dia poderei conhecer esse lugar lindoo.
Oxalá!
Muito interessante gostei ,São estas as maravilhas dos nossos povos obrigado pelos vossos comentários em breve irei visitar
Não conheço mas vou querer conhecer adoro este tipo de aldeias fui ontem a Bragança que não conhecia e fui á aldeia de Montezinho adorei é lindo como toda a paisagem foi sempre a andar porque não tinha muito tempo mas vou querer visitar Rio de Onor estou rendido a toda a paisagem lindo lindo!
Estive em Rio de Onor em dezembro de 2018. Tudo que a reportagem fala é verdade. A paisagem é digna de fotos da “National Geographic”. A população, a maioria com mais de 50 anos, é muito amistosa e vários moradores vieram ter conosco para conversar um pouco. É muito gostoso escutar suas histórias. Existe a Casa do forno comunitário, lavador de roupas, o pastor das ovelhas e a pessoa que cuida do touro. Se a aldeia precisar de algum serviço, fazer uma calçada por exemplo, este é executado por todo o grupo de moradores. Os habitantes portugueses gostam muito de seus vizinhos espanhóis e vice- versa. No final da tarde juntam-se todos para conversar e tomar um vinho. Rio de Onor é uma jóia rara encrustrada no extremo nordeste Português. Vale muito conhecer. Quero voltar lá.
Estive em Bragança e visitei rio de Onor adorei só é pena que estão muintas casa em muinto mau estado só a tranquilidade e água da rio vale a pena trás os montes dão tranquilidade amei