Poff, poff, poff – lá vai o gigante Gargantua pela baía fora, até que: “Aaaaii, que dor! O que é isto que me está a magoar o pé?”. Descalçou o sapato, sacudiu-o e eis que caíram ao chão três pedras. Assim nasceram o Monte Saint-Michel, o Monte Dol e a ilha Tombelaine.

Lemos esta história no Centro de Informação Turística do Monte Saint-Michel, depois de cerca de duas horas de viagem de carro desde Nantes, onde fizemos uma escapadinha de quatro dias.

Além da lenda de Gargantua, ficámos a conhecer a história de Saint Aubert, Bispo de Avranches. Reza assim: certa noite, o arcanjo Miguel apareceu a Aubert num sonho, pedindo-lhe que construísse um santuário no cimo de um monte na Normandia. Duvidando da aparição, o bispo continuou a sonhar com o arcanjo e só ficou convencido quando S. Miguel lhe fez um buraco na testa com um dedo. Corria o ano de 708 quando o santuário foi construído.

Continuando a percorrer o centro de visitantes, ficámos a conhecer outras personagens e factos curiosos sobre a segunda atração turística mais visitada de França (a seguir a Paris), classificada como Património Mundial pela UNESCO, nomeadamente:

Figuras emblemáticas do Monte Saint-Michel

São Miguel

O arcanjo que dá nome à ilha é, segundo os católicos, quem pesa as almas durante o Último Julgamento e acompanha as escolhidos às portas do Paraíso. Olhando para o Monte Saint-Michel, é a sua estátua dourada que ocupa o ponto mais alto, sobre o pináculo esguio da abadia.

A Mãe Poulard

Nascida em 1851, a senhora Poulard era uma simples camareira até ter tido uma ideia brilhante: alimentar os peregrinos que, nessa altura, tinham de esperar que a maré lhes permitisse atravessar a baía a pé e assim alcançar o Monte Saint-Michel. Como isso podia acontecer a qualquer hora do dia ou da noite, era preciso alimentá-los rapidamente à chegada. A senhora Poulard lembrou-se então de cozinhar umas omeletes, ficando famosa(s) até aos dias de hoje.

Ainda no Centro, tirámos nota dos locais que gostaríamos de descobrir mais tarde quando explorássemos a ilha, como numa espécie de caça ao tesouro. São eles:

Locais a descobrir no Monte Saint-Michel

A Grande Rua

Esta não tem de enganar. É a rua existente mal se entra na vila e que conduz à abadia no seu ponto mais alto.

As casas mais antigas

Duas das casas mais antigas da localidade chamam-se la Sirène (a Sereia) e Maison de l’Artichaut (Casa da Alcachofra). São ambas do séc. XV: a primeira situada no início, a segunda no topo da Grande Rua.

As muralhas

Construídas no século XIV para proteger o monte e a abadia dos ingleses durante a Guerra dos Cem Anos, as muralhas proporcionam excelentes vistas panorâmicas sobre a baía e a ilha Tombelaine.

Os melhores miradouros para o Monte Saint-Michel

Antes de deixarmos o centro de visitantes, reparámos ainda num mapa onde estavam assinalados vários pontos com uma vista privilegiada para o Monte Saint-Michel. Sem tempo a perder, saímos de lá apressadamente, já que a primeira meia-hora do parqueamento local é gratuita e não queríamos pagar a entrada duas vezes.

Miradouro Pointe de la Roche Torin

De novo no carro, rapidamente chegámos a este miradouro, sem sabermos ainda que seria dali que traríamos as melhores memórias do Monte Saint-Michel. A pé, percorremos, primeiro, uma zona de campos verdes com vários avisos para os cães serem levados pela trela para não correrem atrás das ovelhas. Do nosso lado direito, estendia-se uma enorme baía vazia (praticamente só areia) até que, continuando a andar, lá estava ele: o Monte Saint-Michel, envolto numa leve neblina, como uma visão. Tivemo-lo só para nós durante todo o tempo em que aí andámos no meio de ovelhas de cabeça preta.

Mais tarde, durante a visita ao Monte Saint-Michel, dei comigo a pensar que São Miguel conduz, de facto, os homens ao paraíso – não após a morte – mas ainda em vida. Porém, mal passamos as suas portas, é do inferno que nos lembramos. É logo na Grande Rua que entrámos: comprida mas estreita para tantas pessoas e cheia (apenas) de lojas com recordações que se repetem; cafés e restaurantes com preços para turista; museus de terror de aspeto duvidoso e, por fim, lá em cima, uma enorme fila para entrar na abadia. Demos meia-volta, passámos pelas muralhas e regressámos à base do monte por ruas secundárias. Conclusão: não ficámos muito tempo na ilha e o que mais me surpreendeu ainda foi uma senhora francesa com um cão ao colo dentro de uma igreja, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Miradouro da barragem

No final, parámos na barragem que, desde 2009, pretende não só devolver a água do mar à baía que rodeia o monte, voltando a transformá-lo numa ilha, mas também servir de miradouro para o Monte Saint-Michel provando que as barragens também podem ser bonitas.

Fechando agora os olhos e relembrando o dia em que estivemos no Monte Saint-Michel, são as ovelhas de cabeça preta, nós a andar pelos campos verdes e o monte ao longe, ora no meio da neblina ora ao pôr do sol sob tonalidades lilás, que me vêm imediatamente à mente. E essas memórias não há nenhuma foto que as consiga reproduzir, por mais imagens que já tenhamos visto do Monte Saint-Michel.

Guia prático para visitar o Monte Saint-Michel

O Monte Saint-Michel é uma pequena ilha rochosa na foz do Rio Couesnon, o qual desagua no Canal da Mancha que separa França de Inglaterra.

Como chegámos

Viajámos de carro a partir de Nantes, via Rennes, sempre por auto-estradas gratuitas (cerca de duas horas de viagem). Também há quem vá de Paris e regresse no mesmo dia. A viagem, porém, é longa, já que Paris fica a 360 km.

Parques de estacionamento

Há 13 parques, ou seja, dificilmente não conseguirá encontrar lugar para estacionar o carro. Em Dezembro de 2016, os preços eram os seguintes: 11,70 euros (24h), 6,50 euros (2h) e 30 min (gratuito). Os preços podem ser consultados em: www.bienvenueaumontsaintmichel.com

Como ir da zona de estacionamento até ao Monte Saint-Michel

  • A pé: são cerca de 35 minutos, ao longo de trilhos próprios;
  • De autocarro (Passeur): a viagem demora aproximadamente 10 minutos e está incluída no preço do estacionamento. Os autocarros (frequentes) partem da Place de Navettes, perto do Centro de Informação Turística, cujo acesso está muito bem sinalizado a partir dos vários parques. A última paragem fica a 350 metros do Monte Saint-Michel, mas quem quiser pode sair antes: quer na Route du Mont, para fazer a pé o percurso com vista para o Monte, quer na Place du Barrage, para ver a barragem e o miradouro. Há autocarros todos dias, durante 24h (entre a 1h e as 7h30 da manhã mediante pedido prévio);
  • De carruagem puxada a cavalo (Maringote), como faziam os peregrinos noutros tempos. A viagem é paga e tem início junto ao Centro de Informação Turística.

Onde ficar e comer

Há bastante oferta de alojamento nas localidades mais próximas, desde hotéis, a turismo de habitação e parques de campismo. Ao longo do trajeto entre a zona de estacionamento e o monte também há alguns hotéis. Já dentro da própria localidade, a oferta é limitada e os preços são naturalmente mais caros. O mesmo vale para os restaurantes.

O que provar

  • As famosas omeletes da senhora Poulard;
  • Crepes de dois tipos: de farinha branca e recheio doce (crêpes) ou de trigo sarraceno e recheio salgado (galletes);
  • Calvados, uma espécie de sidra aguardente típica da baixa Normandia feita à base de maçã.

Caminhadas

Os vários miradouros nas proximidades do Monte Saint-Michel proporcionam uns belos passeios a pé. No Centro de Visitantes, além de informação sobre os vários trilhos existentes, também se pode contratar um guia para fazer uma visita à volta do monte, desde que a maré esteja vazia permitindo andar pelo areal. Dada a rapidez com que a maré sobe, é muito perigoso aventurar-se sozinho.

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Veja ainda:

2 Comentários

  1. Conheci o seu site anteontem pesquisando sobre Montenegro.
    Gostamos muito das dicas e das fotografias.
    Como somos brasileiros, é muito saboroso ler as suas resenhas e as pequenas diferenças entre nossos idiomas.
    Parabéns.
    Não planejam vir ao Brasil?
    Abraços

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