Como prometido, aqui vamos nós de barco das Flores para o Corvo, a ilha mais pequena do arquipélago dos Açores.
Nos últimos dias, conseguimos vê-lo perfeitamente, mas no dia da partida o ilhéu parecia uma aparição no meio do mar. As nuvens pairavam sobre ele e envolviam-no pouco a pouco. O Corvo, tal como as nossas esperanças de uma tarde bem passada, tornavam-se cada vez mais ténues.
Caía sobre nós uma chuva miudinha quando embarcámos no semi-rígido juntamente com mais quatro pessoas. O nosso guia insistiu que a neblina não devia ocultar o Caldeirão – a grande atração da ilha e a principal razão para fazermos aquela viagem. Pouco convencidos, alguns passageiros desistiram da travessia nessa tarde.
Durante o percurso, passámos por vários golfinhos, mas foi só ao avistarmos alguns ainda bebés que interiorizei que o que estávamos a viver era especial, independentemente de mais tarde conseguirmos ou não ver a imensa cratera do vulcão que esteve na origem da ilha.
Sentindo a brisa e o cheiro frescos do mar, lembrei-me do documentário que tínhamos visto sobre o Corvo chamado “É na Terra, não é na Lua” sobre algumas das 400 pessoas que moram atualmente naquele pedaço de terra onde, até há pouco tempo, os barcos só apareciam de seis em seis meses.
Hoje em dia, existem transportes marítimos e aéreos regulares, fazendo-me sentir novamente privilegiada por poder estar ali naquele momento. Por isso, quando chegámos ao Corvo, concentro-me nas águas cristalinas junto ao cais onde se viam peixes e medusas a nadar e não no nevoeiro que ocultava o seu único povoado, a Vila do Corvo.
Como acontece sempre que desembarcam turistas, temos uma carrinha à nossa espera no porto para nos levar ao Caldeirão. Somos os únicos a visitá-lo naquela tarde. À medida que a estrada sobe, o nevoeiro intensifica-se. Perguntámos ao nosso motorista se teremos sorte. Ele diz que não sabe, que de manhã, quando levou um grupo de alemães, não se via nada.
Pára a carrinha no meio da bruma e diz-nos que chegámos. Desalentada, volto a colocar o capuz na cabeça e lembro-me das palavras do dono do barco: “Se não se vir nada quando chegarem, não se vão embora. Desçam um pouco e pode ser que se consiga avistar o Caldeirão debaixo das nuvens. Se não tiverem sorte, esperem alguns minutos e pode ser que a neblina disperse.”
Sem grandes esperanças, aproximámo-nos e não se via mal a cratera, via-se toda! A minha vontade, perante um fenómeno natural que me deixa boquiaberta, é desatar a correr. Refreei-me, porém, de o fazer, ao perceber que havia grandes tufos de erva que me deitariam ao chão.
Caminhei então devagar em redor da caldeira sem tirar os olhos do centro onde se viam lagoas espelhadas, pequenas ilhotas e vaquinhas a pastar no meio de vários tons de verde. Por falta de tempo, não pudemos dar a volta completa à imensa cratera, mas é possível fazê-lo ao longo de um trilho marcado.
Trilho – Caldeirão (PRC2COR)
- Categoria: circular
- Dificuldade: média
- Extensão: 4.8 km
- Tempo médio: 2h30
- Mais informações: http://trilhos.visitazores.com/pt-pt/trilhos-dos-acores/corvo/caldeirao
Miradouro do Portão
De regresso à vila, parámos neste miradouro donde se vê a pequena Vila do Corvo junto ao mar, assim como a ilha das Flores, lá ao longe.
Ficámos ainda a saber que o nosso motorista, um jovem dos seus trinta anos natural do Faial, não se imagina a viver noutro local que não no Corvo. “Mas não é muito isolado?” – quisemos saber. “Quando preciso de ir ao Faial, ao hospital por exemplo, é muita confusão para mim, há muito movimento, fico com uma grande dor de cabeça.” – disse ele.
A Vila do Corvo
Antes de voltarmos a embarcar, ainda tivemos tempo de passear um pouco pela vila. Com uma igreja, um porto, três moinhos tradicionais e ruas semelhantes às de uma aldeia, o povoado tem infraestruturas de cidade, como câmara municipal, um moderno centro interpretativo cultural e ambiental, centro de saúde, correios, bombeiros, complexo desportivo, aeroporto, etc. Além disso, apesar de na ilha só existirem duas estradas (a que conduz ao Caldeirão e outra que não conduz a lado nenhum), não faltam carros a circular.
Olhando uma última vez para o seu litoral alto e escarpado, parto do Corvo com sentimentos contraditórios. Se, por um lado, a vista do Caldeirão foi das paisagens mais bonitas que alguma vez vi, por outro lado sinto-me desencantada, porque a ilha que durante séculos sobreviveu graças à autosuficiência de uma sociedade honrada e valente que não podia contar com ninguém, agora parece totalmente dependente do exterior, donde chega tudo.
Mas depois penso que o desencanto será meu, não das 400 pessoas que ali vivem, num calhau com 6,5 km de comprimento e 4 km de largura no meio do oceano, exposto a todos os elementos naturais.
Guia prático para visitar o Corvo
Como chegar
Existem transportes regulares com a ilha das Flores, tanto aéreos (através da SATA) como marítimos (através da Atlânticoline).
Além disso, existem duas empresas sediadas na ilha das Flores que fazem excursões em barcos semi-rígidos ao Corvo e em torno das Flores (Carlos Toste e Cristino Serpa). Obrigada, Carlos, por nos convenceres a ir ver o Caldeirão nesse dia e a não desistirmos.
Transportes para o Caldeirão
Em Junho de 2014, a viagem de carrinha entre o porto e o caldeirão custou-nos 5 Euros por pessoa. Como o transporte é feito por habitantes do Corvo, o melhor será perguntar, no porto ou na vila, quem o poderá levar à cratera.
Onde dormir
A única infraestrutura hoteleira é a Guest House Comodoro, mas existe também a possibilidade de arranjar alojamento local privado. O melhor será ligar para a ilha…
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Já tive o privilégio de ter estado nesta magnífica e única ilha. É realmente mágica.
Fez-me um pouco de confusão ser um local tão pequeno e com tão pouca coisa, mas aquele mega Caldeirão vale por tudo =)
A poucos dias de mais uma aventura pelos Açores, desta vez para conhecer as Flores e o Corvo, deparei-me com o vosso site.O meu obrigada pelas informações que dele pude tirar e os meus parabéns pelo excelente trabalho.
Olá, Sofia. Estou programando uma viagem às 9 ilhas dos Açores no primeiro semestre do ano que vem e fiquei bastante interessada nessa opção que você citou de ir de semi-rígidos das Flores até Corvo. Você tem o contato das pessoas que citou ( Carlos Toste e Cristino Serpa ) para me passar? Muito obrigada e um fim de ano maravilhoso para você!
Olá Valéria, infelizmente não tenho os contactos. No entanto, sugiro que contacte a Aldeia da Cuada, já que foram eles que nos recomendaram quer o Carlos quer o Cristiano. O telefone da Aldeia é o 292 590 040 e o e-mail: info@aldeiadacuada.com. Um beijinho e um feliz Ano Novo!
Boa tarde. Estive a ver este programa para visitar os Açores, penso que já fez esta viagem. Pode aconselhar-me por qual ilha começar. Obrigada
Olá, eu começaria por uma ilha que tem ligações aéreas diretas de Lisboa ou Porto…
Embora seja possível ir de avião para o Corvo, eu aconselho que se vá de semi-rígido a partir das Flores. Bem conversado, dá para visitar algumas grutas das Flores aproveitando a viagem com o semi-rígido (o mar entra nas grutas). Podem também almoçar no Corvo, mas para isso ser possível é preciso telefonarem na véspera para o restaurante para combinarem a comida, informarem sobre o número de pessoas do grupo e a hora que desejam o almoço. No Corvo o caldeirão é aquilo que deve ser visitado. Passando alguns dias nas Flores, dá para combinar o melhor dia com o guia para nos levar ao Corvo. Há as variáveis do estado do tempo no Corvo e do estado do mar. Agosto é o mês recomendado para qualquer ilha dos Açores.
Olá foi às flores….a terceira …e ponta delgada …..apaixonei me por todas são mesmo lindas aconselho ir ver estás maravilhosas ilhas
E o belo peixe que se chama veja
Um sabor extraordinário
Hoje ainda o sinto
Gostaria de voltar novamente
Vamos ver
Obrigada